Novo ministro já criticou Lava Jato e discordou de defesa de Temer no TSE

29/05/2017 06h

As declarações do ministro foram confirmadas na época por sua assessoria de imprensa.

Folha.com

O presidente Michel Temer decidiu neste domingo (28) trocar o comando dos ministérios da Justiça e Segurança Pública e da Transparência. Osmar Serraglio, que estava na Justiça desde março, assumirá a Transparência, Fiscalização e Controladoria-Geral da União (CGU), trocando de lugar com Torquato Jardim.

A saída de Serraglio foi anunciada pouco antes das 15h, por meio de nota, pela assessoria do Palácio do Planalto. Por volta das 16h30, assessores confirmaram que a mudança se trata, na verdade, de uma troca entre os titulares dos dois ministérios. O motivo da mudança não foi divulgado pelo governo.

PREOCUPAÇÃO NA PF

O presidente da ADPF (Associação dos Delegados da Polícia Federal), Carlos Sobral afirmou que a troca de ministros na Justiça “é motivo de preocupação”.

“O ministro Osmar Serraglio era alvo de várias críticas, então, uma mudança no primeiro escalão não é vista como anormal, mas vulnerabilidade e a dependência da Polícia Federal em relação ao Ministério da Justiça é algo que nos preocupa. Nós temos de manter cautela para que não haja intenções escondidas nessa troca. Não é possível afirmar isso neste momento, mas é motivo de preocupação”, disse.

Sobral afirma ainda que a situação expõe a “vulnerabilidade” da Polícia Federal. “Toda vez que se troca um ministro da Justiça, vem essa discussão de possível tentativa de interferência na Polícia Federal”, disse.

Ele disse também que a notícia causou surpresa por “não conhecer o posicionamento de Torquato em relação à segurança pública e à própria PF”.

Para outros membros da Polícia Federal ouvidos pela reportagem, inclusive com atuação na Operação Lava Jato, a nomeação de Torquato para a Justiça atende a um anseio de políticos que pressionavam o Palácio do Planalto por um nome “forte” à frente da pasta.

Um dos exemplos citados pela Polícia Federal é a conversa entre os senadores tucanos José Serra (PSDB-SP) e Aécio Neves (PSDB-MG) divulgadas no escopo das investigações que decorreram da delação premiada da JBS. Nela, Serra afirma que está “preocupado” e acha “que precisa ter um ministro da Justiça forte”.

“Não precisa ser da área, porque vai ficar da área… vai ficar aquele problema todo. Alguém como o [Raul] Jungmann daria, entende? Bem assessorado, tal. O fato é que tem que por alguém com força. Não para fazer nada arbitrário, mas para que as coisas tenham um caminho, né? de desenvolvimento, tudo”, disse Serra, que também pede que ele leve o pedido a Temer se tiver oportunidade.

Serra também menciona o então ministro Osmar Serraglio, dizendo que “foi um bom deputado” e que “pode ir para outro ministério”. O mineiro diz que concorda “há muito tempo” e pede para que se falem pessoalmente.

Torquato Jardim será o novo ministro da JustiçaMarcelo Camargo/Arquivo/Agência Brasil

Foto: Jornal O Dia