Queda do avião Búfallo C 115 em Ponta Porã: a maior tragédia aérea da história de Mato Grosso do Sul

Por: *Nivalcir Pereira de Almeida

Eram 7:26 hs. de uma manhã fria e úmida na fronteira. Dia 18 de setembro de 1974. Uma equipe do 11º Regimento de Cavalaria se dirigia ao aeroporto de Ponta Porã para recepcionar uma equipe formada por altas patentes das Forças Armadas que estava vindo para uma visita de inspeção na unidade militar da fronteira.

Apressados, falavam em voz alta dentro de uma Rural Willis que deslizava por um caminho lamacento e coberto de neblina, tão comum no inverno fronteiriço. A preocupação era chegar no aeroporto a tempo de recepcionar as autoridades militares que arriscaram descer um Buffalo C115 da Força Aérea Brasileira mesmo sem ter a menor visibilidade.

De repente, à frente deles, um clarão vermelho. O avião, trazendo vinte militares havia se espatifado ao bater numa árvore e num poste de madeira quando tentava aterrissar. Um erro de cálculo do piloto, um aviador experiente, teria provocado a tragédia. Faltavam cerca de 500 metros para pousar na pista asfaltada do aeroporto.

O que os militares viram, apavorados, dentro do veículo era uma cena de guerra. No meio dos destroços do avião, tomado pelo fogo, pessoas tentando se desvencilhar (possivelmente do cinto de segurança) e quebrar os vidros das janelas para sair do inferno. Não conseguiram. Apenas um sobreviveu. Um sargento, mecânico da Aeronáutica, Shiro Ashiuchi. Ele passou mais de 1 ano no hospital recuperando-se. Ele foi salvo por ter sido arrastado por uma valente moça que correu ao local da tragédia e que, depois de salvar Shiro, ainda queria voltar ao local para tentar salvar mais vítimas. O que poderia lhe custar a própria vida.

A hoje advogada Belmira Vilhanueva foi considerada uma heroína (ganhou até medalha pelo feito). Ela arrastou para longe do local da queda do avião o jovem militar, único que sobreviveu à tragédia. Considerada uma das maiores no setor aéreo brasileiro até hoje. O sargento teve várias queimaduras graves provocadas pelo fogo que derreteu boa parte da fuselagem da aeronave. Como sequelas teve uma das pernas amputadas quando no hospital.

O médico Dr. Asturio Marques, comandou a equipe que conseguiu salvá-lo. Na época ele era Major do Exército e servia no 11º Regimento de Cavalaria Mecanizado. E que também promoveu o penoso trabalho de identificar as vítimas fatais da tragédia. Ao todo foram 19. Seis militares da Aeronáutica e treze do Exército. Entre eles, oficiais graduados como o comandante da Base Aerea de Campo Grande Cel. Av. José Hélio Macedo de Carvalho e os generais Alberto Carlos Mendonça Lima e Ângelo Iruleghi Cunha.

Hoje a tragédia é lembrada por um monumento Votivo, construído exatamente no ponto em que o avião chocou-se com o solo. Fica numa área militar controlada pelo 11º Regimento de cavalaria Mecanizado, Rua Comandante Cardoso, ao lado de uma imensa área de lazer de Ponta Porã, o Parque dos Ervais.

O Comando do Regimento promove uma solenidade marcada por homenagens às vitimas da maior tragédia aérea da História de Ponta Porã. Dra. Belmira e Dr. Astúrio sempre são convidados. Recebem o reconhecimento pela forma heroica como atuaram naquele dia inesquecível para a população fronteiriça.

Se alguém quiser apontar um culpado pela tragédia menciona a imprudência (insanidade até) do piloto da aeronave. Os militares obviamente instauraram um inquérito que apurou falhas nos procedimentos da tripulação do Buffalo C 115, comandada pelo experiente Coronel Aviador José Hélio Macedo de Carvalho, Comandante da Base Aérea de Campo Grande. Ele teria desconsiderado os insistentes alertas emitidos pelo sargento que controlava os vôos no Aeroporto de Ponta Porã, que alegava que não havia teto para o pouso. Todos os avisos foram desconsiderados.

O resultado, a história perpetua e sempre é lembrado no 18 de setembro. No próximo ano serão exatos 50 anos da maior tragédia da aviação sul-mato-grossense.

* Professor, Jornalista e Historiador.