Por: Juliana Rauzer
JUVENTUDE IMEDIATISTA, COMO INTERVIR?
Neste mês de outubro estou tendo o prazer de realizar a prosa com especialistas com uma grande amiga psicóloga e neurocientista comportamental. Daniele Lima. Trabalhamos juntas em Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul e tive o privilégio de refletir sobre o desenvolvimento cognitivo, emocional e comportamental do ser humano, sendo de grande valia a troca entre os especialistas. Defendo a interdisciplinaridade em todos os sentidos, principalmente em sala de aula, pois acredito que o educando tem a possibilidade de construir seu aprendizado de forma globalizante.
Falando em educandos, durante a pandemia percebi que a procura por profissionais da psicologia foi bastante intensa. Afinal, não foi fácil lidar com as restrições que o Covid-19 nos trouxe, principalmente para os nossos jovens. Daniele, quais foram às patologias que mais encontrou no consultório?
Tenho visto um grande aumento, ou seja, reflexos da pandemia intensos em adolescentes. Crises de ansiedade e depressão. Parece que eles desaprenderam a se socializar e a interagir com o mundo, lidar com desafios do dia a dia. Voltaram-se mais para os jogos, que geram um prazer imediato. Empobreceram seu repertório social, como se estivessem atrofiando os músculos da socialização, apresentando dificuldade para lidar com frustrações e encaram os desafios.
Daniele, você me fez lembrar do Augusto Cury (psiquiatra e escritor de livros de psicologia aplicada), quando diz que para prevenir a formação de jovens imediatistas deve-se trabalhar algumas ferramentas na relação entre pais e filhos. No livro: PAIS INTELIGENTES FORMAM SUCESSORES, NÃO HERDEIROS, nos apresenta cinco técnicas para uma correção de rota que os pais inteligentes devem aplicar:
Técnica 1: “Gerencie sua mente. […] Se os pais não aprendem a gerenciar minimamente seus pensamentos, como podem querer que os filhos gerenciem seu estresse e irritabilidade? Se tem a necessidade ansiosa de querer tudo para ontem, como podem desejar que seus filhos sejam pacientes e elaborem suas experiências mais importantes?” CURY, 2014 p. 112.
Na técnica dois ele reflete sobre aplicar a técnica do DCD que ele mesmo criou que significa (Duvidar, Criticar e Determinar) seus pensamentos. Dizendo-nos assim: “Os pais e professores notáveis devem questionar, impugnar, criticar, confrontar no silêncio da própria mente, cada pensamento perturbador, cada reação ansiosa e imediatista.” Nas técnicas posteriores aconselha a realizar atividades relaxantes como andar de bicicleta, visitar um zoológico, cantar dentro do carro, pois são experiências que acalmam e relaxam fazendo com que os filhos fiquem mais serenos e tranquilos, pois pais apressados fomentam a agitação mental dos seus filhos. Realizar atividades juntos, colecionar, ajudar entidades, tocar instrumentos, cozinhar estimulam o senso altruísta e de cooperação.
Daniele, e qual são as suas dicas para as famílias que estão lidando com esses comportamentos, tão bem citados por você?
Juliana, necessitam de conexão, olhar crítico, monitorar os comportamentos dos filhos. Recebo em meu espaço pais que conseguiram a tempo observar que seus filhos necessitavam de ajuda, e ao ter acesso a esses, pude perceber que as necessidades, dúvidas, angústias, ansiedades estavam a mil, a ponto de se tornar algo mais patológico.
Às vezes pela falta de maturidade dos jovens, e até pelos contextos sociais e as interações estarem limitadas a outros jovens (que também estão passando e vivenciando esses padrões) acreditam que esteja tudo normal, sendo assim, esse olhar mais crítico dos pais, essa conexão com seus filhos, é de suma importância para agirmos a tempo.
Não podemos deixar que uma falta de autoconhecimento, desencadeie uma patologia, pois ao repetir um padrão de comportamentos disfuncionais, nosso cérebro acaba entrando em colapso, e passa a trabalhar de maneira atípica, alterando a configuração e prejudicando o funcionamento ”normal”.
Hoje infelizmente, em alguns momentos estamos juntos com nossos filhos, mas totalmente desconectados deles, e isso faz com que não estejamos atentados a mudanças em seus padrões de comportamentos, que podem ser fundamentais para prevenir danos futuros.
Nessa fase da adolescência, é bastante comum os pais se distanciarem de seus filhos, na verdade os filhos ficarem mais distantes dos pais, pois o que está em jogo nessa fase, é pertencer a um grupo, ser aceito por ele, e de certa forma, fortalecer os vínculos sociais.
É algo bastante complexo para nós enquanto pais, mas, nessa fase a única coisa que cabe a gente é o sustento das necessidades básicas. Todas as energias dos jovens estarão direcionadas para o externo, e isso embora seja um pouco desconfortável, é saudável!
É nesse momento que teremos a prova, de como o nosso trabalho como pais educadores foram internalizados (princípios e valores) por eles, é um momento tenso, pois ele irá literalmente sair a campo, para fazer a sua própria pesquisa, e validar os dados repassados pelo ambiente familiar, e consequentemente construir o seu eu, juntando o que aprendeu no ambiente doméstico, mais o que vai coletando em suas experiências e vivências, baseado em suas interpretações, sua lente.
O nosso papel além de suprir as necessidades básicas é de monitorar, de forma assertiva essa fase, de um jeito sábio, estado próximo e atuante, mas ao mesmo tempo, dando espaço de forma limitada, mas com uma certa liberdade, fazer e administrar suas escolhas, pois precisamos prepará-los para sobreviver nessa “selva” que é o mundo. Temos que ter muito cuidado para não aleijarmos, no sentido de impedir que eles cresçam e se desenvolvam, e comecem a ser (de forma monitorada) os protagonistas da sua história. A comunicação, interação, respeito e monitoramento assertivo, é o que vai fazer a diferença nessa fase!
Gratidão, Daniele. Com certeza ter um olhar atento é extremamente importante e procurar ajuda caso evidenciar disfunções é o que fará a diferença no desenvolvimento emocional e afetivo dos nossos jovens.
Famílias, não tenham vergonha de pedir ajuda, os profissionais estão aí para lhe direcionar, apoiar e trabalhar no que for preciso. Conversem mais com seus filhos, estimulem a autonomia e senso crítico.
Concluo com uma citação do Augusto Cury que nos diz:
“Herdeiros vivem à sombra de seus pais, sucessores constroem seu próprio legado.”
“No início da vida, a proteção e o cuidado dos pais e dos professores são fundamentais para a sobrevivência. Mas, com o passar do tempo, o excesso de “sombra” impedirá o contato com as intempéries da vida, retraindo o crescimento e a resiliência, impedindo a capacidade de utilizar as ferramentas para trabalhar suas crises, lágrimas, perdas. Os herdeiros se formam a sombra dos seus educadores, enquanto os sucessores são forjados no sol das dificuldades.” CURY, 2014. P. 61
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