Problema de décadas em MS: falta de água e amparo em aldeias em Dourados

Foto: Leomar Trovão

Comunidades indígenas têm cerca de 17 mil pessoas; falta água, remédios e violência é grande

A falta de água potável, comida, pobreza, saúde e desnutrição são problemas que se arrastam há décadas em aldeias de Dourados, em Mato Grosso do Sul. Com cerca de 17 mil moradores, as comunidades indígenas do Estado enfrentam situações degradantes aonde a água não chega, mesmo em aldeias que são próximas à região urbana do município.

Após a exposição da situação dos indígenas Yanomami de Roraima, com mais de 500 mortes de crianças por desnutrição, a pauta em Dourados também foi levantada, já que existem problemáticas sérias na região que abriga as etnias Guarani, Guarani Kaiowá, Guarani Ñandeva e Terena.

O coordenador Especial de Assuntos Indígenas de Dourados, Leomar Trovão, trabalha de perto nas aldeias Jaguapiru, Bororó e Tambazinho. Ele cita a falta de água como principal problema, já que crianças e adultos sobrevivem carregando baldes, e até usando galões de agrotóxico para guardar água

“A nossa situação está precária. Sofremos muito com a falta de água. Tem alguns poços feitos na década de 1990, mas são insuficientes para atender toda a comunidade, que cresceu muito. Há centenas de famílias onde a água não chega”, disse ele. 

O absurdo, é tão grande que a reserva indígena está apenas 4 km do Centro de Dourados, onde a água chega tranquilamente por 24h aos moradores. Ao redor também há plantações de milho em propriedades rurais e condomínios de luxo.

Saúde

O coordenador cita que há falta de remédios, médicos, dentistas e transporte para levar os indígenas para tratamentos em hospitais e postos de saúde da cidade.

 “Aqui a Sesai (Saúde Indígena) atende as comunidades. Mas temos deficiência em falta de medicamento, profissionais que são poucos. Gasolina que sempre falta e não conseguimos transportar as pessoas para fazer tratamento. A gasolina que mandam dura uns dez dias, depois acaba e não temos mais como levar os indígenas para consultas ou tratamentos”.
Pessoas desnutridas

 “Temos sim pessoas subnutridas, mas são poucas. São casos mais aos extremos da aldeia.”

Violência

A miserabilidade e pobreza da reserva está atrelada a entrada de drogas, bebidas alcoólicas e muita violência. As ocorrências de furtos, roubos, violência doméstica são diários, além disso, já houve registros de tragédias como estupros coletivos seguidos de morte de crianças.

 “Acho que o poder público tem que estar mais presente na comunidade e trazer ações que realmente atendam a comunidade. Às vezes o poder público até traz um projeto, mas é paliativo, executa e acaba, sem resolver o problema de forma permanente. O poder público deveria construir ações verdadeiras, não só um faz de conta”, finaliza o coordenador.

Aldeia Jaguapiru

O vice-cacique da Aldeia Jaguapiru, Ivan Kleber, responsável pelo abastecimento de água na aldeia, também aponta a necessidade do mínimo, já que no local existem aproximadamente 900 crianças.

“Aqui foram feitos poços artesianos há muitos anos e a população cresceu demais. Fazemos várias ligações pedindo água porque o recurso que temos não atende a toda comunidade. Sempre digo ao poder público que devemos fazer mais poços, mas nada é feito.”

Ele diz que tampa o sol com a peneira e inclusive apelou a Sanesul, concessionária que presta serviços ao Governo do Estado, mas sempre tem a barreira burocrática atrapalhando uma simples ligação de água

 “A gente quer que a Sanesul entre na aldeia. Demos a ideia deles colocarem um relógio para comunidade com uma medida de uso, e caso ultrapassasse, pagaríamos a taxa-extra, mas não tivemos resposta. Ficamos desamparados. Pra quem devemos pedir ajuda?”, questiona o vice-cacique, que não tem resposta da prefeitura, governo estadual e governo federal. 

Problema de décadas em MS: falta de água e amparo em aldeias em Dourados

(Indígenas tentam furar poço e ter acesso à água. Foto: Leomar Trovão)

“Não tem remédio, não médico. Tem o hospital da Missão que ajuda a gente, mas é muito pouco.”

“Para ajudar na alimentação, a gente recebe uma cesta do governo estadual mensalmente. Estamos fazendo novos cadastros e de vez em quando vem alguma ONG aqui para fazer doações”. 

O cacique afirma que não há mais terra para plantar, pois não tem espaço disponível na localidade. 

Ele finaliza dizendo apenas que os indígenas merecem o mínimo de infraestrutura para sobreviver, estudar, trabalhar e melhora de vida.

“A aldeia ficou muito pequena para tanta gente. Não temos espaço para plantio. Temos que trabalhar na cidade. Falamos para nossos jovens estudar e trabalhar. Estamos bem próximos à cidade e nossa reserva é como se fosse um bairro, porém sem o básico que deveríamos ter.”

Ministra dos Povos Originários

A ministra dos Povos Originários, Sonia Guajajara, que assumiu a pasta recém-criada pelo governo Lula, disse em entrevista ao Estadão, que existe uma crise em MS. 

“Uma situação também preocupante é a do Povo Guarani Kaiowá, no Mato Grosso do Sul, que vive insegurança e situação permanente de conflitos territoriais. Sem lugar para plantar, têm muita dificuldade para produzir alimentos”.

FONTE: TOP MÍDIA NEWS