Das agressões registradas nesse domingo, Assembleia Geral do povo Kaiowá e Guarani, Aty Guasu, relata que entre as TIs há até mesmo território delimitado desde 2011
Povos Guarani Kaiowá em Mato Grosso do Sul foram alvos de ataque durante esse último fim de semana, com caminhonetes em alta velocidade e disparos em pelo menos cinco territórios distintos do Estado, entre os quais há até mesmo uma terra indígena delimitada e oficialmente reconhecida desde 2011.
Informações divulgadas pela Assembleia Geral do povo Kaiowá e Guarani, Aty Guasu, indicam que os ataques aconteceram em pelo menos cinco territórios de povos originários sul-mato-grossenses, sendo:
- Guyra Kambiy,
- Potero,
- Arroio Cora,
- Laranjeira e
- Kunumi.
Liderança Guyra Kambiy, Ezequiel destacou que as imagens que mostram a arruaça das caminhonetes, seguidas por sons de disparos e registros de parentes ensanguentados, aconteceram quando os indígenas realizavam protesto na estrada pública em frente a aldeia.
“Não provocamos eles, estávamos fazendo nosso protesto e o fazendeiro passou por nós e atirou. Estamos aguardando a polícia federal e nacional para registrar um boletim de ocorrência. Não queremos mais ficar escondidos e sofrendo injustiças, queremos reivindicar nossos direitos, estamos firmes e vamos continuar a luta”, disse.
Através das redes sociais, a própria Assembleia Aty Guasu, bem como a articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), trouxe à tona as imagens das movimentações e violências.
Promessa cobrada
Entre as autoridades cobradas, os indígenas marcaram o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que inclusive esteve em Mato Grosso do Sul em 12 de abril, ocasião em que sugeriu “comprar fazenda para atender indígenas Guarani-Kaiowá de Dourados”.
Nas palavras de Lula em MS, a intenção por trás da proposta era “salvar”; “recuperar a dignidade” dos indígenas sul-mato-grossenses, com o presidente acrescentando que o Governo Federal seria parceiro não só na compra mas no cuidado para com esses povos originários do Estado.
Entretanto, esses povos originários afirmam que os Guarani Kaiowá tiveram paciência em esperar, diante da promessa do presidente de que seriam prioridades, porém destacam que se encontram justamente do lado oposto, como alvos de violência que buscam ter suas reivindicações reconhecidas e sua situação vista.
“Agora faremos várias retomadas, e estamos enfrentando derramamento de sangue e morte! Lutamos pelo nosso direito! Agora responde para nós, [Lula], você tem falado que sua prioridade era indígena e estamos aqui sofrendo ataques e resistindo!”, indicam.
Mais recente, a correligionária do presidente, pré-candidata a vereadora e parlamentar na atual legislatura, Luiza Ribeiro, engrossou o coro por ajuda entoado pelos indígenas, apontando para a situação dos Guarani Kaiowá da Terra Indígena Panambi – Lagoa Rica.
Luiza frisa que a terra indígena Panambi – Lagoa Rica, com 12,1 mil hectares, trata-se de área oficialmente reconhecida como originária dos povos Guarani Kaiowá identificada pelo Ministério da Justiça e delimitada desde 2011.
Segundo a vereadora, a TI que fica localizada no município de Douradina foi alvo de um “grave e violento ataque”, e os relatos dos indígenas locais repassados indicam que a invasão foi feita por fazendeiros e capangas em camionetas em alta velocidade.
“E começaram a atirar contra todas as pessoas e, inclusive crianças. Testemunhas informaram que os agressores estavam com sinais de embriaguez e totalmente descontrolados”, expõe também Luiza através das redes sociais.
Em complemento, um indígena acabou baleado nessa ação, sendo que o Ministério Público Federal (MPF); Defensorias Públicas da União e do Mato Grosso do Sul (DPU e DPE/MS), bem como demais entidades, foram acionados para “que investiguem e garantam a segurança às pessoas que se encontram em situação de risco devido ameaça dos fazendeiros que estão na área”, expõe Aty Guasu em nota.
Abaixo, você confere a nota do Conselho na íntegra.
NOTA PÚBLICA DAATY GUASU
Após longos anos de espera pela homologação e regularização de nosso território ancestral, sobrevivendo em
barracos de lona, sem as mínimas condições de vida, sofrendo ameaças e perseguições por parte do
latifúndio que nos cerca com sua produção de grãos, decidimos retomar, nesta madrugada (14), parte de
nosso território de Panambi – Lagoa Rica, localizada no município de Douradina, no Mato Grosso do Sul.
Em represália, durante a tarde, fomos atacados por fazendeiros da região, que em bandos invadiram nossa
comunidade. Na mesma tarde, no tekoha Guayrakamby”i, que integra o mesmo território, um indígena foi
alvejado.
Eles estão atirando para matar e prometendo um massacre. Estamos pedindo, urgentemente, socorro.
Lembramos que em 2015, estes mesmos grupos de fazendeiros já atacaram a comunidade de Guyrakamby’i,
e que só não cometerem uma chacina porque o Ministério Público Federal (MPF) impediu. Solicitamos
urgente ajuda e que o Estado garanta nossa segurança, pois estamos em nosso território ancestral.
Acionamos o MPF, a Defensoria Pública da União (DPU) e do Mato Grosso do Sul (MS), Força Nacional,
Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), órgãos de segurança pública do estado e entidades de
Direitos Humanos, para que investiguem e garantam a segurança às pessoas que se encontram em situação de
risco devido ameaça dos fazendeiros que estão na área.
Nossa área do Lagoa Rica está delimitada, porém nunca foi entregue a nós. Retomamos para garantir a vida
do nosso povo mas agora estamos temendo a morte.
Queremos nossa terra e seguiremos em marcha em busca do direito à demarcação de nosso território que nos
é garantido pela Constituição Federal em seus artigos 231 e 232. Com isso denunciamos a
inconstitucionalidade da Lei 14.701 e da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 48.
Douradina, Mato Grosso do Sul, 14 de julho de 2024
Aty Guasu e conselheiros das comunidades indigenas Itay, Guyra kamby’i, Gaaro’ka e Tajasu Iguá
Fonte: Correiodoestado