18/07/2015 05h55
Ponta Porã Linha do Tempo: A evolução de Ponta Porã na virada do XIX, início do século XX na região fronteiriça. O pequeno ponto de parada de tropeiros a se tornar referencia histórica do estado
Divulgação (TP)
“Agora tire o chapéu tamo chegando no céu, é aqui meu Mato Grosso, este gigante colosso…Hélio Serejo, Canto Caboclo”.
História o causo e a lenda, para que os mesmos possam existir, precisa ser feita de pessoas, “homens e mulheres” que se tornam personagens de suas narrativas em seu tempo, de maneira a contribuírem no desenvolvimento econômico, social, cultural e político de sua cidade, região e país.
Ponta Porã, fronteira de histórias épicas registradas na memória histórica nacional, marcadas por fatos cercados de mistérios, alguns já perdidos no tempo, outros relatados por pesquisadores, historiadores e escritores, de pessoas que aqui fixaram sua morada, como também de descendentes que cresceram ouvido essas histórias da criação de nossa cidade de nossa rica fronteira da “Princesinha dos Ervais”.
Através de levantamentos históricos de Ponta Porã, muitos levam o credito de pioneiro e fundador da fronteira, mas vamos realizar uma retrospectiva da linha do tempo histórica, para resgatar fatos que identifiquem as raízes da formação desta região fronteiriça.
Imagem publicada no livro de Marco Rossi, Ponta Porã 100 anos, 2012. Fonte: Mapa imagens da formação territorial brasileira, Fundação Odebrecht, Rio de Janeiro, 1993. Mapa de 1798 da região em que dois séculos depois nasceria à cidade de Ponta Porã.
Um dos primeiros fatos histórico registrado ocorreu no ano de 1777, quando uma expedição militar enviada pelo imperador chegou a esta região, tendo como objetivo de explorar o solo, conhecer e mapear de forma mais precisa a extensão e todas as riquezas que aqui existiam, assim poderiam conhecer sua dimensão com uma maior precisão, um fator que chamava a atenção seria o potencial na quantidade de matas e futuras terras para cultivo que esta região teria.
Quase um século após esta expedição no ano de 1862 chegou o grupo do tenente militar Antônio João Ribeiro que tinha como objetivo fixar um forte na cabeceira do rio “Dourados” por ser este local estratégico, hoje esta região é o município de Antônio João, para neste local especifico ser erguida a famosa Colônia Militar dos Dourados que foi destruída durante a guerra da tríplice aliança ficando este fato marcado na história.
Fonte Governo do Estado de Mato Grosso do Sul, publicado no livro de Marco Rossi, Ponta Porã 100 anos. Reprodução da Fazenda Santo Tomaz de meados de 1934, feita por Antonio Gonçalves, Resultado da medição que ampliou Os limites do município de Ponta Porã, agregando as terras pertencentes à antiga Companhia Mate Larengeiras, área consolidadas trocadas por terras próximas a Campanário.
Seguindo a linha do tempo histórica de nossa fronteira que teve muitos colonizadores exploradores da erva mate tentando se fixar na região o mais famoso o Tomáz Larangeiras detentor de imensas porções de terras, contribuiu com o desenvolvimento, Tomáz Larangeiras explora e industrializava a erva-mate em Ponta Porã e exporta para Argentina, mas também era alvo de críticas por manter um grande monopólio em torno da exploração de erva mate neste período histórico.
No período histórico que foi vilarejo, o lado brasileiro recebia o mesmo nome da vila existente no lado paraguaio, ambas se chamavam “Punta Porã”.
“Aconteceu que o lado paraguaio acabou recebendo o nome oficial de Pedro Juan Caballero, em homenagem a um dos libertadores do Paraguai”. Elpidio Reis. 1981.
Com as escolha de um novo nome do lado paraguaio para a distinta cidade irmã, no lado do Brasil o nome de “Punta Porã” abrasileirou se para “Ponta Porã” desta forma cada local seguiu rumo ao seu desenvolvimento, que visivelmente era bem melhor e mais atrativo na cidade do país vizinho de acordo com relatos de pesquisadores da época.
Os problemas evoluem ou permanecem? Para tentar compreender o presente temos que analisar os fatos do passado através de escritores de outras épocas, que sensibilizados e preocupados com os problemas existentes no pequeno vilarejo do lado brasileiro, relatavam estes eventos do cotidiano de uma fronteira da virada do século XIX.
“A falta de garantias nesta parte da fronteira era completa, pela ausência de autoridades. Desde a retirada do destacamento comandado pelo Alferes Nazareth a zona ficou entregue à sua própria sorte”. ROSA, apud. REIS. ELPIDIO. 1981 p. 61.
No ano de 1880 chega à região o senhor Alferes Nazareth, um militar que vem com a missão de comandante e ergue seu acampamento junto à lagoa do Paraguai (Laguna Porã), onde hoje é a cidade de Pedro Juan Caballero, o senhor Nazareth veio com sua esposa, fato este que gerou então o nascimento do primeiro Pontaporanense de nome Boaventura Nazareth, nascido segundo registro no dia 14 de julho de 1881, o mesmo só pode ser registrado no cartório de Nioaque a 250 km de distância de Ponta Porã, por ser lá o local com cartório mais próximo.
No livro de Elpidio Reis Ponta Porã Polca Churrasco e Chimarrão de 1981, o mesmo relata que um dos primeiros a se fixar na cidade em 1892, foi o capitão João Antônio da Trindade, carioca natural da capital Rio de Janeiro, veterano da guerra da tríplice aliança um herói reconhecido a nível nacional principalmente por ter participado na campanha militar da Retirada da Laguna.
O senhor Trindade se fixou na cidade de Ponta Porã com sua família, foi ele o primeiro morador que realmente se estabeleceu no local onde efetivamente se formou a cidade de Ponta Porã e mencionado segundo registro do historiador entre outros pesquisadores e escritores da época, que neste período, somente existia fixo no local um posto fiscal que tinha a incumbência de arrecadar impostos referentes à exploração de erva mate, o responsável por tal posto fiscal era o senhor Emílio Calhau.
Foto arquivo pessoal de Maria Guarani Kaiowá Barcellos: João Antonio da Trindade (Capitão), primeiro morador efetivo da região de Ponta Porã. Segundo informações de historiadores um dos heróis da retirada da Laguna, sendo o primeiro juiz de paz de Ponta Porã, era considerado um dos homens mais cultos da região, morou na cidade até seu falecimento em 11 de novembro de 1920.
Este distinto morador Senhor João Antonio da Trindade faleceu em Ponta Porã em 11 de novembro de 1920 segundo informações de seus descendentes e de historiadores e mencionado no livro de Elpídio Reis, o senhor Trindade era considerado em sua época um homem mais culto existente na cidade, desta forma cabia a ele um papel fundamental no desenvolvimento sócio-político cultural na pequena cidade que estava começando a se constituir de forma mais efetiva e menos transitória de seus moradores no perímetro urbano.
Arquivo pessoal de Maria Guarani Kaiowá Barcellos: Bisavô de Maria Guarani Kaiowá Barcellos Júlio Alfredo Mangini, primeiro professor de Ponta Porã.
Arquivo Pessoal de Maria Guarani Kaiowa Barcellos: Dona Olimpia, bisavó de Maria Guarani, esposa de Julio Alfredo Mangini, considerado o primeiro professor de Ponta Porã, Dona Olimpia era filha de João Antonio da Trindade que é considerado o primeiro morador da região onde hoje é Ponta Porã, foi o primeiro Juiz de Paz da cidade.
Contudo não podemos creditar ao senhor Trindade o título de primeiro morador dentre tantos outros que por aqui passaram, mas que fique claro que ele adotou a fronteira como seu porto seguro sua última parada, o que podemos dizer e que Ponta Porã vem evoluindo, crescendo ao decorrer das décadas através de sua população oriunda de várias partes do Brasil e de outros lugares do mundo.
Que seja registrado que o senhor Trindade indiscutivelmente foi um dos primeiros a se fixarem, e contribuir na formação da cidade, sua dedicação contribuiu grandemente para o desenvolvimento desta região.
Existem publicações de pesquisadores e escritores narram que o início do povoamento de Ponta Porã foi à região de periferia é mencionado que existia um vasto brejo, sendo este um grande atoleiro de fato quase impenetrável, hoje o mesmo não existe mais nem a mata virgem que existia próximo deste brejo na região norte o que limitava essa área era a cabeceira do córrego São João e ao Sul a cabeceira o córrego Estevão, próximo dos marcos feito em madeira, esta de lei, que indicavam o limite da linha divisória com Paraguai.
No ano de 1897 chega a Ponta Porã o militar Francisco Marcos Tupy Serejo, sendo ele major do exército, um legitimo veterano da guerra da “Tríplice Aliança” ou “Guerra do Paraguai” o mesmo fora incumbido de um destacamento neste período histórico de 20 soldados (praças) e um sargento pertencentes ao 7º Regimento de Cavalaria, ficaram sobre o comando do Major Serejo integrantes “praças” da milícia do Estado, dentro de suas atribuições estava à administração da Agência Fiscal, para que o mesmo realiza se a devida cobrança dos impostos devidos sobre a exportação da erva-mate para o Paraguai e impedir de forma efetiva o contrabando na região de fronteira, este fato histórico fora publicado no livro de Elpídio Reis Polca churrasco e chimarrão de 1981.
Na virada do século em 10 de abril de 1900 através da resolução de nº 255, o Governo do Estado cria a Paróquia de Ponta Porã, sendo neste período nomeado o militar João Antônio da Trindade, capitão, o mesmo um dos heróis da “Retirada da Laguna”, exerceu a função que o cargo lhe atribuía por doze anos, tendo como escrivães, sucessivamente, os cidadãos da época Orcílio Freire, Júlio Alfredo Mangini e Policarpo de Ávila.
Ponta Porã neste período histórico de sua formação estava subordinada à jurisdição da Comarca de Nioaque, posteriormente vinculando se ao Distrito Policial de Bela Vista, quando foi criado o Município de Bela Vista.
A evolução de Ponta Porã foi lenta, sendo uma pequena sede de um Distrito de Paz da região, em sua localidade existia somente uma pequena escola, que era única na extensão da faixa de fronteira, a população de Ponta Porã teve um relativo aumento conforme a chegada das caravanas de famílias oriundas do Rio Grande do Sul que se fixavam na região, segundo levantamentos publicados pelo pesquisador e escritor Elpídio Reis.
Desta forma percebemos que ao longo do povoamento da região, muitos viajantes passaram por essa fronteira, a exemplo da família Ribeiro, Vargas, Silva e Bueno, um destes migrantes o patriarca Roberto da Silva Bueno juntamente com sua esposa Maria Rodrigues e filhos, um deles o senhor Gumercindo Bueno, outra família era composta por Zeferino Vargas e sua esposa Bernadina Ribeiro, que viajavam com seus filhos e filhas uma delas Ramona Ribeiro Vargas, ambas as famílias oriundas do Rio Grande do Sul em especial de São Borja, os mesmos eram integrantes destas comitivas e tropeiros que chegavam e partiam da região, tais famílias tinham como parada final a região de Rincão de Julho próximo a Sanga Puitã (que significa córrego vermelho) e Rio Verde do Sul que se localiza próximo a Taji (tagy), e a antiga Colônia Dutra, hoje Município de Aral Moreira, como demais localidades da região.
Foto de 1919 de Luiz Alfredo M. Magalhães. Publicada no livro um Homem de Seu Tempo, uma biografia de Aral Moreira, “intensa movimentação das carretas ervateiras”. Isso se deu no início do século na região fronteiriça, onde muitos desbravadores oriundos das mais diversas localidades e regiões do Brasil, principalmente do Sul do país, iniciaram seus cultivos e criações, nas estancias (fazendas) que estavam se formando na fronteira.
Dificuldades e problemas existem há milênios, e continuaram a existir, o que devemos aprender com os pioneiros do passado, que dentro de suas lutas, ter a sabedoria de criar soluções práticas para tais empecilhos que prejudiquem o desenvolvimento e o crescimento de uma cidade e região.
Viver o presente pensar no futuro, mas nunca se esquecer do passado assim se faz uma nação forte, pois um povo sem memória é um povo sem história.