Mais de nove mil indígenas de 200 povos ocuparam a capital federal, em abril, no Acampamento Terra Livre (ATL), maior assembleia indígena das Américas, que celebra os 20 anos da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) em 2025. Na ocasião, mil cestas básicas e quatro toneladas de alimentos in natura foram entregues pelo Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), em parceria com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
- Janaína Oliveira (centro) explica que parceria com a Cozinha Solidária e MST garante alimentação saudável, livre de agrotóxicos, e respeita a origem dos alimentos. (Foto: Lyon Santos / MDS)
Na tenda da cozinha comunitária, entre as cozinheiras e os alimentos recebidos, Janaína Oliveira, responsável pela estrutura do ATL e coordenadora de projetos da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), explica o que está por trás do que se vê. “A cozinha é o coração do acampamento. Se essas pessoas param para cozinhar para 100, 200 pessoas, o dia vai embora. E a luta? Como fica?”, questiona.
Segundo ela, a parceria com a Cozinha Solidária e com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) garante alimentação saudável, livre de agrotóxicos, e respeita a origem dos alimentos. “Se a gente tem que pagar alguém, que seja para quem está lutando com a gente”, afirma.
Do outro lado do acampamento, Genésia da Paixão, cacique da Aldeia Cerro da Pancararé, da Bahia, segura firme sua faixa colorida na cabeça e sorri. Sua presença em Brasília, ela mesma diz, é um milagre. “Eu pensei que esse momento nunca ia chegar. Minha comunidade é muito distante, temos muita dificuldade para vir, mas hoje estou aqui, na minha primeira ATL, lutando pelos direitos do meu povo” conta, emocionada.
Para Genésia, as reivindicações são muitas: saúde, educação, demarcação de terras. Mas ela se diz esperançosa com os tempos atuais. “No governo passado, sofremos demais. Agora, com Lula, esperamos melhorias. Já estamos vendo algumas, como essa alimentação saudável aqui. Isso é respeito”, diz, enquanto observa as crianças da sua aldeia correndo pelo acampamento.
PAA Indígena
- Para Hulicio Huni Kuin, PAA Indígena gera renda, valoriza o trabalho e fortalece a cultura. (Foto: Lyon Santos / MDS)
Mais ao norte, da floresta do Acre, veio Hulicio Huni Kuin, presidente da organização dos povos indígenas Urucum do Alto Purus. Ele fala sobre uma vitória que começa a se consolidar em sua região: a chegada do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) Indígena. “Agora, a gente não precisa mais comprar comida industrializada. O que plantamos é o que alimenta as escolas indígenas. Isso gera renda, valoriza o nosso trabalho e fortalece a nossa cultura” diz, com orgulho.
O PAA na modalidade “Compra com Doação Simultânea” permite que alimentos produzidos por agricultores familiares indígenas sejam adquiridos pelo governo e redistribuídos para comunidades em situação de vulnerabilidade. No ATL, o impacto disso se materializa nas marmitas servidas três vezes ao dia: uma soma de 5.400 refeições por turno.
Janaína reforça: frutas como melancia, banana e mexerica não são luxo, são necessidade. Em Brasília, o calor seco castiga, e a hidratação se transforma em cuidado de sobrevivência. “Depois da marcha, todos pegaram bananas e frutas para “esfriar o corpo” antes do almoço. É um carinho que também é estratégico. Desde que fizemos parceria com o MST, não tivemos mais nenhum caso de intoxicação alimentar. Isso diz tudo, né?”
O ATL 2025, com o tema “APIB Somos Todos Nós: Em Defesa da Constituição e da Vida”, acontece em um momento simbólico. A Constituição de 1988, que assegura os direitos originários dos povos indígenas, volta ao centro do debate político e, em cada colherada de arroz com salada servida no acampamento, há mais do que nutrição: há memória, resistência e futuro.
Assessoria de Comunicação – MDS
Fonte: Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome