O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) está avaliando a possibilidade de tombar propriedades integrantes da Rota do Café, um circuito que conecta o litoral paulista ao interior de São Paulo. A declaração foi feita por Danilo Nunes, superintendente do Iphan, durante um debate realizado na Câmara Municipal de Campinas. O encontro teve como foco a proteção da Fazenda Santa Elisa, que pertence ao Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e abriga o maior banco de germoplasma de café do Brasil, além de pesquisas significativas, como as voltadas à macaúba, uma planta considerada promissora como biocombustível.
Em 2023, o Governo de São Paulo iniciou estudos para o possível desmembramento da fazenda, com o intuito de vender parte de sua área. Diante dessa ameaça, o Instituto Fazendas Paulistas (IFP) solicitou ao Iphan o tombamento da propriedade, cuja análise corre em paralelo com o projeto da Rota do Café.
Nunes afirmou que a intenção é garantir a preservação das fazendas de café, como parte de um projeto mais amplo que integra diferentes patrimônios culturais, criando uma paisagem cultural conectada por esse patrimônio. Embora o tombamento não inviabilize a venda da área, ele imporia restrições à sua intervenção. “A questão do tombamento é extremamente relevante, pois pode limitar algumas ações do governo. Contudo, é essencial lutar contra a venda e a apropriação de um patrimônio público, que pertence a todos nós”, alertou Helena Dutra Lutgens, presidente da APqC, durante o evento.
Lutgens também ressaltou que outras fazendas de pesquisa, além da Fazenda Santa Elisa, correm risco de serem vendidas. O Estado de São Paulo atualmente possui 39 áreas de pesquisa agrícola, incluindo a Santa Elisa, todas ameaçadas por esse processo de desmembramento. A presidente da APqC destacou que as pesquisas realizadas pelo IAC têm impacto nacional, beneficiando os cafeicultores, que dependem dos avanços tecnológicos, como o desenvolvimento de variedades de café resistentes às mudanças climáticas e sem cafeína.
Além disso, outras 37 áreas voltadas à pesquisa ambiental, anteriormente administradas pelo Instituto Florestal, também estão ameaçadas de venda. Essas áreas foram afetadas pela fusão do Instituto Florestal com outros órgãos, como o Instituto de Botânica e a Superintendência de Controle de Endemias (Sucen).
Em fevereiro, o Governo de São Paulo confirmou, por meio de ofício à Assembleia Legislativa, que estuda a venda de 25 dessas áreas, incluindo a Santa Elisa. Maria Rita Amoroso, vice-presidente do IFP e autora do pedido de tombamento da fazenda, reforçou a importância das pesquisas científicas no desenvolvimento agrícola do Estado. “Os fazendeiros precisam da pesquisa pronta para enfrentar pragas e implementar novas tecnologias. O que não podemos permitir é que a especulação imobiliária coloque em risco esse patrimônio”, afirmou.
Gustavo Petta (PCdoB), vereador de Campinas, também destacou a relevância da Fazenda Santa Elisa como um patrimônio científico, ambiental, histórico, cultural e agrícola. “Por todas essas razões, precisamos avançar na proteção desta fazenda”, concluiu. O pedido de tombamento surge como uma medida urgente para resguardar a fazenda de pesquisa diante da ameaça de venda e especulação imobiliária.
Fonte: Portal do Agronegócio
Fonte: Portal do Agronegócio