Homem que tentou queimar juíza é condenado a 20 anos de prisão

05/07/2017 09h50

Alfredo Santos foi condenado por tentar queimar Tatiane Lima e manter a juíza em cárcere privado no Butantã. Julgamento foi encerrado na noite desta terça (4).

G1

Após um ano, homem que ficou conhecido por invadir o Fórum do Butantã, na Zona Oeste de São Paulo, com um galão de gasolina e um isqueiro e ameaçar queimar uma juíza e um vigia que trabalham no local foi condenado a 20 anos de prisão em regime fechado.

O julgamento do vendedor Alfredo José dos Santos começou na segunda (3) e foi encerrado na noite desta terça-feira (4).

Ele foi condenado a 16 anos e oito meses por tentativa de homicídio contra a juíza Tatiane Lima e três anos e quatro meses por cárcere privado contra a juíza, e absolvido do crime de tentativa de homicídio contra o vigilante.

O crime ocorreu em 30 de março de 2016 e ganhou repercussão após vídeos feitos por celular que mostram Alfredo mantendo Tatiane refém e ameaçando incendiá-la terem sido divulgadas e compartilhadas pelo aplicativo de celular WhatsApp.

Ele havia invadido o local com uma mochila, munido com gasolina, isqueiro, um capacete com a inscrição ‘inocente’ e uma roupa com os dizeres ‘fraude processual’, tudo isso para protestar contra a decisão da Justiça de tirar a guarda de seu filho após sua ex-mulher acusá-lo de agressão. Para chegar até a juíza, o vendedor jogou um ‘artefato explosivo’ na direção do vigilante.

Preso desde então, Alfredo começou a ser julgado na segunda-feira (3) no Fórum Criminal da Barra Funda, também na região Oeste da capital. Além dos depoimentos da juíza e do vigia, o juiz Adilson Paukoski Simoni, da 5ª Vara do Júri, ouviu as testemunhas de acusação e de defesa no primeiro dia até interromper o julgamento para ser retomado nesta terça (23) com o interrogatório de réu.

Júri
Como responde por duas tentativas de homicídio (contra a magistrada e o vigilante), crime doloso contra a vida, Alfredo foi julgado por um júri popular, composto por sete pessoas da sociedade. O vendedor ainda era acusado de cárcere privado de Tatiane.

Ele achava que Tatiane havia tirado dele a guarda do filho. Mas o vendedor estava equivocado. Ele tinha uma audiência com a magistrada no dia que cometeu o crime, mas era sobre uma nova acusação de agressão contra a ex-esposa.

Alfredo manteve a juíza refém por mais de 20 minutos, na sala dela na Vara da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher. No gabinete dela, arremessou no piso uma garrafa com líquido inflamável e derrubou Tatiane no chão. Depois, derramou o produto nele e nela, ameaçando atear fogo nos dois com um isqueiro.

Nesse período, Alfredo obrigou Tatiane a gravar um vídeo com o celular dele, dizendo para o filho do invasor que o pai era inocente da agressão contra a ex. Em seu depoimento, a magistrada falou que se não fizesse isso o vendedor a mataria. Veja abaixo o que ela falou ao G1 em março deste ano, quando o caso completou um ano.

Vídeos

Além de ter filmado Tatiane sendo ameaçada de morte e ofendida, Alfredo obrigou os policiais que negociavam a rendição dele a gravarem a cena. Seu objetivo era de que as imagens chegassem ao filho que ele tem com a ex-companheira.

Alfredo foi detido pelos agentes num momento de distração. Depois, os policiais libertam a juíza.

Após o interrogatório de Alfredo, que está previsto para começar às 10h desta terça e poderá ser feito pelo juiz, pelo Ministério Público (MP) e pela própria defesa do réu, ocorrerão os debates entre o promotor do caso, Rogério Leão Zagallo, responsável pela acusação, e os advogados Marcello Primo Muccio e Damilton Lima de Oliveira Filho, que defendem o vendedor.

Caberá aos jurados decidirem por votação secreta se Alfredo é culpado ou inocente pelos crimes e ainda se o absolve ou o condena. A sentença será dada em seguida pelo juiz; a expectativa é que ela seja conhecida ainda na noite desta terça-feira. Se houver condenação, Adilson determinará o tempo da pena que o vendedor deverá cumprir.

Tremembé

Antes de ser julgado, o réu estava cumprindo prisão preventiva em Tremembé, interior de São Paulo. Nesta terça, ele deverá dizer novamente que usou o isqueiro “só para assustar” e que não tinha “qualquer propósito homicida”, que pretendia apenas chamar a atenção da mídia, “da televisão”, com a intenção de “mostrar a verdade”.

Para a acusação, entretanto, o invasor do fórum só tinha um objetivo: planejava matar a juíza e se suicidar.

A defesa dele nega a acusação de que seu cliente tenha tentado matar a juíza e o vigia. “Vou pedir a absolvição dele das duas tentativas de homicídio”, disse o advogado Marcello, antes do julgamento. “Ele tem de responder somente pelo cárcere.”

“Não tenho dúvidas de que ele invadiu o fórum, única e exclusivamente decidido a assassinar a magistrada”, disse o promotor Zagallo.

Juíza Tatiane Moreira Lima (Foto: Kleber Tomaz / G1)

Juíza Tatiane Moreira de Lima; vídeo com ela sendo mantida refém por Alfredo José dos Santos; e imagem de agressor detido pela polícia (Foto: Reprodução / TV Globo / Polícia Civil)