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sexta-feira, 27 de setembro, 2024
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‘Heróis contra o fogo’: quem são os brigadistas que combatem as chamas no Pantanal

Focos de incêndio já ultrapassam mais de 1400% neste ano, se comparado ao mesmo período de 2023. Mais de 420 mil hectares já foram consumidos pelo fogo.

Sol escaldante, horas de locomoção e o ar é fuligem. A temperatura registrada não é a mesma sentida na pele, que está sob camadas de equipamentos de proteção contra chamas. Esta é uma pequena descrição da rotina incessante dos brigadistas que atuam contra os incêndios no Pantanal. 

O combate ao fogo é uma união de esforços entre Corpos de Bombeiros, brigadas vinculadas ao Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios (PrevFogo) e grupos de brigadistas de ONGs, como a SOS Pantanal e o Instituto Homem Pantaneiro (IHP).

“Os brigadistas são heróis contra o fogo. Os funcionários da fazenda são apaixonados pelo Pantanal, não medem esforços para combater o fogo”, detalha o biólogo e diretor de comunicação da SOS Pantanal”.

'Heróis contra o fogo': quem são os brigadistas que combatem as chamas no Pantanal
Brigadistas trabalham contra o fogo, no Pantanal. — Foto: Gustavo Figueirôa/Arquivo Pessoal

A seca, a estiagem e osefeitos práticos do EL Nino expuseram o bioma ao fogo antecipadamente, de acordo com os especialistas Com isso, o trabalho mais intenso dos brigadistas também foi precoce.

O bioma já registra o maior número de queimadas para um mês de junho desde o começo do monitoramento, em 1998. Os rastros de destruição já são vistos, como jacarés carbonizados e vegetação completamente estarrecida.

Dia de combate

'Heróis contra o fogo': quem são os brigadistas que combatem as chamas no Pantanal
Brigadista trabalha de forma incessante contra o fogo. — Foto: Gustavo Figueirôa/Arquivo Pessoa

Manoel Garcia é um dos sete brigadistas que compõem a Brigada Alto Pantanal, grupo vinculado à ONG SOS Pantanal. Durante os seis primeiros meses do ano, o trabalho é de prevenção. Entretanto, neste ano, o combate ao fogo começou antes.

“Essa é a dificuldade que enfrentamos. Percorremos 1 hora de caminhonete, imagina se vier à pé. Não conseguimos chegar no combate sem ajuda. Isso pela distância, pelo combate e as questões do nosso bioma, esse mato alto. A gente consegue chegar com apoio. Se fosse à pé, demoraríamos 2 dias. Eu acho que o apoio de trator é essencial”, explicou o brigadista Manoel.

'Heróis contra o fogo': quem são os brigadistas que combatem as chamas no Pantanal
Combate é feito direto contra o fogo. — Foto: Gustavo Figueirôa/Arquivo Pessoal

Nos últimos dias, Manoel tem atuado no combate próximo à Serra do Amolar – patrimônio Natural da Humanidade pela Unesco -, no Paraguai Mirim. Para chegar na “cabeça do fogo” (ponto crítico dos incêndios), os brigadistas fazem um percurso distante. Veja o trecho abaixo:

01 – De Corumbá, os brigadistas pegam uma lancha rápida até o primeiro porto, este percurso dura 3 horas;

02 – Do porto, os trabalhadores partem para sede da fazenda. O trajeto é feito de caminhonete. Mais 1 hora até o ponto de encontro;

03 – Com uma caminhonete traçada, os trabalhadores vão por uma área que foi aberta com trator;

04 – Do último ponto, os brigadistas precisam retirar os equipamentos da caminhonete e colocá-los no trator, único veículo que consegue chegar por terra no local das chamas;

05 – Até a cabeça do fogo, os brigadistas enfrentam mais 3 horas sobre o trator;

06 – Próximo das chamas, os brigadistas começam o trabalho de combate à pé.

“O que mais chamou minha atenção é a dificuldade para acessar as áreas onde o fogo está. Chegando para o combate já estamos desgastados, muito cansativo e quente. Passamos o dia todo combatendo”, explica Gustavo Figueirôa.

Mesmo com difícil acesso, o trabalho dos brigadistas tem surtido efeito prático, como Gustavo relembra. Os profissionais conseguem conter o fogo com aceiros, faixas de terra abertas pela brigada para separar áreas de mata e impedir o avanço do fogo

“É difícil e com pouca gente, conseguimos fazer algo. Se vier mais ajuda, o cenário pode ser mais favorável. Além do combate, fizemos vários rescaldos. Alguns troncos que queimaram ainda estavam em brasa, foi feito o rescaldo, resfriado com água. Por mais que já tenha queimado, as brasas podem queimar por dias. Se vier um vento forte pode levar as brasas para áreas que não queimaram ainda”, contextualiza.

'Heróis contra o fogo': quem são os brigadistas que combatem as chamas no Pantanal
Corredores são abertos com tratores para que brigadistas combatam o fogo. — Foto: Gustavo Figueirôa/Arquivo Pessoal

Os brigadistas do Instituto Homem Pantaneiro trabalham dia e noite contra o fogo. “O combate noturno é diferente. É uma outra visão que você tem do fogo. Temos um outro combate, é surreal”, comenta Sérgio Ramos, que passou a integrar a equipe neste ano.

Além do fogo, os brigadistas precisam ficar atentos às peculiaridades do Pantanal. A exposição à animais peçonhentos e os diferentes terrenos fazem com que o serviço seja mais cauteloso.

“Nós que estamos na linha de frente encontramos muitos animais, como cobra. Estamos tentando defender o Pantanal, mas correndo riscos também. Fogo intenso, calor intenso e vento que muda a toda hora. Parece que quando o fogo começa a pegar, o vento vem junto. A gente fica neste risco por amor ao Pantanal. Penso que se deixarmos, isso vai acabar”.

Brigadistas do Ibama

'Heróis contra o fogo': quem são os brigadistas que combatem as chamas no Pantanal
Brigadistas intensificam ações no Pantanal. — Foto: GOV-MS/Reprodução

O PrevFogo, órgão vinculado ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), nunca contratou tantos drigadistas para o combate ais incêndios do Pantanal em Mato Grosso do Sul como neste ano, Ao todo, serão 145 profissionais atuando contra o fogo no bioma em 2024.

A última liberação para os contratos foi realizada nesta segunda-feira (10). O Ibama autorizou a contratação de 45 novos brigadistas para atuarem no combate aos incêndios no Pantanal. A medida foi publicada, nesta segunda-feira (10), no Diário Oficial da União (DOU).

O responsável pelo PrevFogo em Mato Grosso do Sul, Márcio Yule, comentou que o maior número de contratados havia sido registrado em 2023, quando 142 brigadistas foram admitidos.

“Nunca contratamos tanto. A metade dos contratados já começou a trabalhar em 1º de junho. Os outros 70 brigadistas vão iniciar o trabalho agora em julho e seguem até o fim de dezembro”, destacou Yule em entrevista ao G1.

Fonte: G1 MS