03/08/2016 19h
Patriarca da família recebeu equipe do Pontaporainforma em sua fazenda
Por: Dora Nunes
A equipe do Pontaporainforma esteve visitando Carlos Cardinal de Jesus, um dos patriarcas do clã Cardinal em Ponta Porã que nessa semana está fazendo 90 anos de idade, diga-se de passagem, bem vividos.
Um homem forte, lúcido, de voz firme e sorriso acolhedor, em conversa informal, contou um pouco da sua trajetória nessa longa viagem denominada VIDA.
Carlos Cardinal de Jesus comemora seus 90 anos de idade ladeado pela esposa Castorina Eva , seus filhos, netos e bisnetos.
Na varanda da casa, rodeada por árvores, flores e cantos de passarinhos, seu Carlos contou que nasceu na cidade de Santiago, no Rio Grande do Sul, em uma família grande composta de 10 irmãos. Carlos Cardinal de Jesus veio para o Mato Grosso do Sul com apenas 4 anos de idade juntamente com seus pais. Hoje, dos 10 irmãos, só 4 estão vivos: Carlos Cardinal de Jesus, Lino (mais conhecido como Capeí) e duas mulheres, Vergínia e Júlia.
A ideia, desde o começo, era chegar na região de Ponta Porã, mas como não havia estradas que ligasse diretamente o RS com a fronteira, primeiramente os pais do seu Carlos fizeram uma parada em Campo Grande, onde um conhecido da família, comerciante Alfredo Antunes que possuía um caminhão o qual sempre ia até Campo Grande para trazer mantimentos para a fronteira, a pedido de Lino do Amaral, tio de Carlos Cardinal de Jesus, trouxe a família para a fronteira.
Então, lá pelos idos de 1929, a família de Carlos Cardinal de Jesus se estabelece de vez na região de Lagunita, numa propriedade denominada Lagoa do Paraíso, onde, num primeiro momento, o pai do clã, senhor Claudino Antônio de Jesus juntamente com sua esposa, Maria Leopoldina Cardinal, arrendaram umas terras para trabalhar e terminar de criar os filhos. Algum tempo depois, Claudino comprou as terras em que estavam morando.
O garotinho Carlos foi crescendo pelas bandas de Lagunita e aos 18 anos, por volta de 1947, serviu o quartel, no 11º RC MEC de Ponta Porã, onde ficou por um ano. Logo depois, conheceu sua esposa, a bela jovem Castorina de apenas 16 anos e aos 24 anos de idade, no dia 21 de abril de 1949, contraiu matrimonio com aquela que até hoje é sua companheira. O jovem casal ganhou um pedacinho de terra do senhor Claudino e após comprar um bilhete de loteria, seu Carlos foi sortudo, ganhou um prêmio que usou para comprar 30 novilhas e construir uma casinha para sua amada, local onde residem até hoje e la se vão 66 anos de união.
“Antigamente tudo era diferente, tudo era simples. Naquele tempo não tinha carro, era só carreta de boi e cavalo”, lembra seu Carlos, onde seu pensamento é complementado pela fala de sua esposa que lembra que a festa do casamento durou 4 dias, já que o pai de Castorina, Pompílio Cabral de Siqueira, era um homem que gostava muito de festa, apesar de ter ficado viúvo muito cedo com cinco filhas para criar.
Fato interessante é que são 03 irmãs casadas com 03 irmãos: Mafalda casada com Lino ; Eva casada com Domingos (da Casa Cardinal) e dona Castorina que contraiu matrimônio com Carlos Cardinal de Jesus.
Dessa união, nasceram três filhos: Pompílio (Negrinho), Alfredo e Júlia que deram seus frutos, presenteando o casal com oito netos e 3 bisnetos.
Carlos Cardinal de Jesus e sua esposa afirmaram ser felizes por terem se estabelecido em ponta Porã, sempre trabalhando com honestidade, dignidade, sendo que o primeiro carro adquirido foi por volta de 1971, época que também adquiriram o primeiro fogão a gás.
Na conversa, Carlos lembrou que limpou muito erval nativo e após a confecção da erva, esta era carregada em carro de boi, com bastante dificuldade já que cada carreta suportava apenas mil quilos e cada carreta tinha 6 bois com 3 juntas. ” Os dias eram grandes”, lembrou Carlos que ainda concluiu que como não existia geladeira tinha que “carnear” quase todo mês, cuja carne tinha que ser salgada para a confecção de charque para o consumo.
Após a erva mate, Cardinal começou a comprar bezerros trabalhando com sistema de cria e engorda e depois incluiu a lavoura quando adquiriu um trator, expandido ainda sua propriedade comprando terras dos vizinhos que hoje é “tocada” com o auxilio dos filhos.
Carlos Cardinal de Jesus foi um dos fundadores do clube de Laço Lino do Amaral em Ponta Porã, sempre ajudando com gado e tudo mais que até hoje o clube precisa para a realização das festas que agitam a fronteira.
Nas histórias contadas por seu Carlos, ele lembrou que na região o carro não era muito conhecido já que o veículo usado era o carro de boi, e na ocasião havia o Martim Greffe, grande fazendeiro e primeiro a comprar um carro. ” O filho dele era homem já e não conhecia carro e um dia o rapaz foi no campo e veio um carro de Dourados e passou pela estrada. O rapaz viu e correu e contou para o seu pai que havia visto um bicho grande, corredor e que catingava. Então o seu Greffe avisou que era o tal de carro”, lembrou sorridente e nos altos dos seus 90 anos, Carlos Cardinal de Jesus.
Alem de um carro tipo Rural, seu Carlos também teve um jepp traçado para enfrentar as estradas boiadeiras da localidade.
Em suas lembranças, Carlos lembra com sorrisos, quando da formação de sua fazenda onde tudo era feito manualmente com arado, puxando toras com três juntas de bois e serrando pessoalmente as madeiras existentes.
Na conversa na varanda da casa, questionado de como veria toda a sua vida, vindo do RS para MS, e tudo o que construiu, a emoção toma conta do senhor de 90 anos e com voz embargada diz que tudo valeu a pena: “Não tenho inimigo, me dou bem com todo mundo”, afirmou com os olhos molhados pelas lágrimas onde a emoção toma conta pela linda história baseada no amor, na confiança, no trabalho pesado, na simplicidade, na honestidade.
Com certeza fazer 90 anos é para se comemorar com muita alegria por Carlos e Castorina, um casal que, juntos, formaram uma família com base, alicerçada no respeito, no amor, na dedicação e principalmente no trabalho e o seu Carlos Cardinal de Jesus é um homem admirado pela família que construiu e exemplo para os jovens que querem vencer solidificados no suor do trabalho.
Que fique o exemplo para as gerações futuras do homem que não teve medo de ser filho, esposo, pai, avô, bisavô…
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