04/01/2016 07h40
No Iraque, vários xeques, governantes e líderes de coletivos xiitas condenaram a execução de Al Nimr
EFE
A execução do clérigo xiita opositor Nimr Baqir Al Nimr pelas autoridades de Riad aumentou a tensão entre a Arábia Saudita e o Irã e os xiitas do Oriente Médio, que já estão em lados opostos em vários conflitos na região.
O governo da Arábia Saudita decidiu hoje romper relações diplomáticas com o Irã após o ataque ontem à noite à Embaixada saudita em Teerã e ao consulado na cidade de Mashhad, que foram uma reação à execução, anunciou o ministro saudita de Relações Exteriores, Adel al Yubeir.
Em entrevista coletiva, Al Yubeir acrescentou que o embaixador iraniano e o resto do pessoal diplomático em Riad têm 48 horas para sair da Arábia Saudita.
No Iraque, vários xeques, governantes e líderes de coletivos xiitas condenaram a execução de Al Nimr, entre eles, a máxima autoridade xiita do país, Ali Al Sistani, que a qualificou de “injustiça e agressão”.
Além disso, o primeiro-ministro iraquiano, Haidar al Abadi, assinalou em comunicado que recebeu com “todo pesar e grande surpresa” a execução do clérigo xiita.
Abadi ainda destacou que os direitos humanos garantem a opinião e a oposição pacífica, que também estão protegidas pela sharia (lei islâmica) e pelos regulamentos internacionais.
Por isso, segundo Abadi, violaresses direitos “terá uma influência na segurança, na estabilidade e na coesão social dos povos da região”.
O grupo xiita Asaib Ahl Al Haq (Liga dos Justos) pediu as autoridades iraquianas que executem os condenados sauditas e estrangeiros por terrorismo no país, em resposta à morte de Al Nimr.
Outros países
No Iêmen, o movimento rebelde xiita dos houthis, contra quem a Arábia Saudita intervém militarmente no país, se uniu à condenação e rotulou a atuação de Riad de “crime atroz”.
O Conselho Político dos houthis, órgão executivo do grupo, disse em comunicado que essa execução “é parte do contexto das tendências e políticas imprudentes” no Oriente Médio pelo governo saudita.
Este novo fato pode aumentar a intensidade do conflito no Iêmen, onde uma coalizão árabe-sunita liderada pela Arábia Saudita bombardeia os houthis, que são não-oficialmente apoiados pelo regime xiita do Irã.
No Irã, o líder supremo Ali Khamenei, condenou hoje a morte do clérigo xiita dissidente e ameaçou os políticos sauditas, dizendo que pagarão por isso.
Khamenei disse que, “sem dúvidas, o injusto derramamento do sangue deste mártir inocente atuará de forma rápida e os políticos sauditas enfrentarão a um castigo divino”, assinalou em seu site oficial.
No Líbano, o líder do grupo xiita libanês Hezbollah, Hassan Nasrallah, acusou hoje a Arábia Saudita de ter revelado sua “verdadeira cara despótica, criminosa, terrorista e takfirí (sunita radical)”, após a execução de Al Nimr.
“A execução de Al Nimr é um crime grave cometido pela família dos Saud (do rei da Arábia Saudita) e terá repercussões no mundo e além”, acrescentou Nasrallah em discurso retransmitido pela televisão “Al-Manar”, que pertence ao Hezbollah.
Em Bahrein, cuja população é majoritariamente xiita, mas governada com mão de ferro por uma monarquia sunita, foram registrados hoje novos confrontos entre manifestantes e as forças de segurança, que deixaram dezenas de feridos, como pôde constatar a Agência Efe.
Além disso, Sayed Youssef Al Mahfada, do Centro de Bahrein pelos Direitos Humanos, disse à Efe que a execução de Al Nimr terá repercussões e fomentará os conflitos sectários na região.
“Os discursos do clérigo sempre chamaram à paz e à unidade entre os sunitas e os xiitas, mas, apesar disso, foi executado enquanto outros que incitam o sectarismo estão livres na Arábia Saudita”, afirmou, ao destacar que é equivocado comparar ativistas a terroristas.
Ontem à noite, grupos de manifestantes em Teerã e na cidade iraniana de Mashhad atacaram e incendiaram a Embaixada e o Consulado saudita em protesto pela morte de Al Nimr, o que foi condenado hoje pela Liga Árabe e por outros países do Oriente Médio.
O promotor da capital iraniana, Abbas Dolatabadi, informou que 40 suspeitos de participar desse ataque foram presos.
A Anistia Internacional condenou a morte de Al Nimr e as outras 46 execuções de ontem na Arábia Saudita, e acrescentou que buscam “achatar a dissidência e fazer um acerto contas”.
“O assassinato do xeque Al Nimr sugere que as autoridades da Arábia Saudita estão empregando a pena de morte em nome do antiterrorismo para acertar contas e oprimir dissidentes”, denunciou o diretor da organização para o Oriente Médio e o Norte da África, Philip Luther.
A AI destacou a presença do clérigo e de outras três figuras xiitas entre os sentenciados, assim como a condenação de Al Nimr em um julgamento “político e extremamente injusto” em uma corte especial do reino saudita.