As indicações do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para a nova cúpula das Forças Armadas reforçam a distância do Exército da política. Para analistas, Bolsonaro saiu enfraquecido do episódio, já que as dispensas dos chefes de Exército, Marinha e Aeronáutica foram provocadas pela recusa de seus então líderes de aderirem a politização, como queria o presidente.
Para especialistas, a escolha do general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira como novo comandante do Exército é sintomática de que o presidente não terá o controle que gostaria sobre a Força. O general mostrou um posicionamento divergente do presidente no combate à pandemia em entrevista ao jornal Correio Braziliense . Na publicação, Paulo Sérgio apontou a possibilidade de uma terceira onda da Covid-19 e defendeu o isolamento social.
As declarações do general teriam irritado o presidente e se somado a outros desgastes que culminaram com a saída de Fernando Azevedo e Silva do Ministério da Defesa.
“Ele (Bolsonaro) achou que ia mostrar controle sobre as Forças Armadas e colheu o reverso. Não tem controle nenhum. O sinal de que o comandante do exército vai ser o general Paulo Sergio é demolidor. Ele foi o pivô da crise que levou a saída do então ministro da Defesa Fernando Azevedo e Silva”, afirma o cientista político Carlos Melo, do Insper.
“Essa indicação mostra a disposição do exército em relação à constituição e ao combate à Covid-19, o que diverge do presidente. E que são concepções legalistas e científicas e que também divergem do personalismo e negacionismo do presidente. Ele (Bolsonaro) fica falando “meu exército”. Mas ficou claro que o exército é do estado brasileiro”, completa.
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Ex-presidente da Associação Brasileira de Estudos de Defesa, Alcides Vaz, avalia que Bolsonaro buscou uma acomodação para a crise e acabou cedendo a nomeação do general Paulo Sergio, cuja entrevista ele também concorda que foi um dos motivos de conflito entre o presidente e o ex-ministro da defesa.
“O general Paulo Sergio não parece ser esse nome subserviente, como queria o presidente. Sua indicação reforça a perspectiva das forças armadas se afastarem do epicentro da crise política. Não há nada que indique que eles (militares) vão ser mais subservientes do que as lideranças que estavam antes.”
Professor de ciência política da FGV, Marco Antonio Teixeira, vê o presidente isolado em meio a crise com as forças armadas.
“Embora os militares não sejam coesos, a sinalização de momento é que há hoje no exército um grupo que quer distância da política partidária. E outro recado dessas mudanças é que Bolsonaro não é tão forte quanto se imaginava.”