Cemitério Cristo Rei reúne muitas informações históricas de Ponta Porã

01/11/2015 10h

Há pessoas que consideram o cemitério como um arquivo rico de informações ou até mesmo um “museu a céu aberto”.

Divulgação: Dora Nunes

Com a proximidade da chegada do Dia de Finados, os cemitérios passam a receber muitas visitas. A maioria dosa visitantes é formada por parentes e amigos em busca de um momento para “matar ou alimentar saudades” de quem já desencarnou e está sepultado nestes locais. As sepulturas recebem um tratamento especial, como limpeza, pintura nova e, em muitos casos, decoração com flores.

Porém, o cemitério, na maior parte do tempo, fica quase que abandonado. Nestes momentos, eles podem servir como uma importante fonte de informações, principalmente sobre a História daquela comunidade.

Há pessoas que consideram o cemitério como um arquivo rico de informações ou até mesmo um “museu a céu aberto”. Afinal de contas, o cemitério é uma fonte de pesquisa geográfica (localização e expansão das cidades), histórica (antigos hábitos de inumar), sociológica (como a sociedade lida com a morte e a memória), antropológica (representação individual da morte), linguística (signos verbais), literária (escritos sobre a morte), artística (escultura), arquitetônico (construções tumulares), arqueológica (antigos túmulos), hidrogeológica (aguas subterrâneas cemiteriais) pedológica (solo cemiterial), genealógica e heráldica (famílias, nomes, brasões), demográficas (imigrantes), nobiliarquia (linhagem dos nobres), turística (visita a ilustres) e outras mais.

Assim, os cemitérios se tornam objetos de estudos abrangendo diferentes áreas como a Geografia, Geologia, Medicina, Arte, Arquitetura, Sociologia, Engenharia e, especialmente a História. Uma das constatações resultante de estudos e observações destes locais é que, em muitos deles se torna visível a divisão de classes sociais na composição das sepulturas dentro do mesmo espaço. A presença de cidadãos de nacionalidades diferentes. Pessoas ilustres, membros de famílias mais conhecidas, entre outros “detalhes”.

Tudo isso pode ser observado no Cemitério Municipal Cristo Rei. Ali estão sepulturas de personagens ilustres da História local como os ex-governantes do município. No túmulo do ex-prefeito Pedro Manvailler ( nasceu em 20 de setembro de 1879 e morreu em 13 de dezembro de 1941) e que governou Ponta Porã no período de 16 de fevereiro de 1937 até a data de sua morte).

Há até uma mensagem para destacá-lo dentre os demais. Nela, uma frase atribuída ao então presidente da República, Getulio Vargas que, em sua visita à cidade no dia 4 de agosto de 1941, pronunciou : “se todos os prefeitos fizessem como o senhor, o Brasil teria dado mais um passo para frente”.

No cemitério Cristo Rei estão centenas de sepulturas com arquitetura diferente. Há túmulos bem característicos de diversas épocas. Os mais antigos com tijolos e reboco. Os mais recentes com pedras mais trabalhadas, mármores. Alguns jazigos contêm portas com fechaduras e espaço para a colocação de quadros com fotos, objetos, relacionados aos ocupantes das sepulturas revelando detalhes da época em que viveu e faleceu.

A presença de povos que vieram de outros lugares do mundo também se evidencia nas mensagens impressas nas lápides, inclusive em línguas de outros países, como os orientais que ocupam esta fronteira há décadas.

Além de todas estas informações que podem servir para diferentes estudos, também é possível encontrar pessoas que simplesmente mantêm velhos hábitos de visitar o cemitério para reverenciar seus antepassados. Durante uma das visitas ao cemitério Cristo Rei para produção desta matéria, encontramos o produtor rural Alfredo Arce e o engenheiro Cilnio Arce (filho) que foram visitar o jazigo da família. “Meus sogros e cunhados além de uma filha estão enterrados aqui”, revela Alfredo. “Já os meus ancestrais estão enterrados no cemitério de Pedro Juan Caballero”, acrescenta.

“Minha irmã tinha 14 anos quando faleceu. Um dos cunhados do meu pai também morreu jovem, vítima de um acidente”, expõe Cilnio.

A conversa se estende na medida em que os dois revelam características dos falecidos. Seu Arce, o pai, expõe detalhes de como era a fronteira nas décadas de 1950 e 1960 quando morreram sogros e cunhados.

São histórias de vida e de morte, que revelam aspectos interessantes do passado da gente fronteiriça. Tudo isso reunido num local tão especial. Mesmo que triste.

Fonte: Nivalcir Almeida-Jornal Regional

Fotos: Tião Prado