Caso Vanessa Ricarte: Em Ponta Porã, Deputada Estadual Mara Caseiro fala ao Pontaporainforma

Na noite de sábado, dia 15, a deputada estadual Mara Caseiro (PSDB) esteve em Ponta Porã para prestigiar o show dos cantores Munhoz e Mariano no Verão no Parque 2025.

Ao lado da secretária de Governo Paula Consalter, concedeu entrevista ao Pontaporainforma onde entre outros assuntos, abordou o caso da jornalista assassinada Vanessa Ricarte e o descaso policial que vem sendo retratado no respectivo feminicídio.

Mara Caseiro é conhecida por atuar em diversas áreas, como cultura, educação, segurança pública, entre outras. Sendo destaque, também, em ações e projetos para mulheres no Estado de Mato Grosso do Sul, dentre os quais temos o Projeto de Lei 228/2024, que dispõe sobre diretrizes de criação e funcionamento de protocolo permanente para atendimento integral com a reinclusão das mulheres vítimas de violência doméstica em situação de vulnerabilidade ao mercado de trabalho no âmbito do estado de Mato Grosso do Sul, bem como já destacou a importância da utilização de tornozeleira eletrônica e de botão do pânico nos casos de medidas protetivas relacionadas à violência contra a mulher. A deputada, recentemente, voltou a solicitar o aumento do efetivo policial nas Delegacias da Mulher do estado.

A deputada disse que o sistema falhou novamente e que é preciso urgente busca de soluções efetivas que realmente salvem vidas!

“É inaceitável ver mulheres incríveis, como a Vanessa, perdendo suas vidas nas mãos de covardes e assassinos!”, afirmou a deputada, lembrando que infelizmente teve uma falha do sistema que jamais poderia ter.

A jornalista Vanessa Ricarte buscou ajuda, mas naquele momento não teve o respaldo que deveria ter e, de acordo com Mara Caseiro, é preciso buscar formas de evitar esse tipo de falha e quando se pensa na Casa da Mulher Brasileira, imagina-se que ali a mulher terá uma rede de proteção e sairá se sentindo segura e tendo um norte. “ E foi o que não aconteceu com a Vanessa”, disse a deputada, reafirmando que continuará trabalhando para evitar o feminicídio no Estado.

CASO VANESSA RICARTE

A jornalista Vanessa Ricarte, de 42 anos, morreu na noite de quarta-feira (12) no Hospital da Santa Casa de Campo Grande. Ela foi vítima de feminicídio do ex-noivo Caio Nascimento com três facadas na altura do coração.

Caso Vanessa Ricarte: Em Ponta Porã, Deputada Estadual Mara Caseiro fala ao Pontaporainforma

Após sofrer as facadas na casa onde morada no Bairro São Francisco, a jornalista foi levada pelo Corpo de Bombeiros para a Santa Casa, onde passou por cirurgia. O autor do crime, Caio Nascimento, foi preso em flagrante e não apresentou resistência.

Na madrugada de quarta-feira (12), Vanessa foi até a Deam (Delegacia de Atendimento à Mulher) para denunciar caso de violência contra o namorado e pedir medida protetiva, que foi determinada. De tarde, ela foi até sua casa, para pegar seus pertences e ao chegar no local, foi esfaqueada por Caio.

FALHA NO ATENDIMENTO

Vanessa descreve em 4 minutos como a própria polícia não deu alternativas senão ela voltar para onde foi morta.

Áudio enviado a um amigo após ser atendida pela Deam mostra que a própria polícia induziu ela a voltar para casa onde foi brutalmente assassinada com três facadas no peito.

No áudio, ela relata que foi atendida de forma fria pela delegada, que o noivo estava sendo protegido e que foi mandada de volta sem apoio.

“Eu fui falar com a delegada e explicar toda a situação. Ela me tratou bem fria, seca, toda hora me cortava. Eu queria ver o histórico da pessoa [Caio] e falou para mim que não podia passar”. Na sequência, a delegada teria dito que Vanessa já sabia dos históricos de agressões de Caio.

Depois, Vanessa relatou à delegada que Caio mandava mensagens informando que conversava com o sogro e que não conseguia falar com ela. Conforme a fala, Vanessa estava há dois dias fora de casa, sem tomar banho. Nisso, a delegada disse: “Então vai para a sua casa, você já avisou ele, manda uma mensagem falando para ele [Caio] deixar a casa.”.

Vanessa, na sequência, lamentou que a Deam não entendeu a dimensão da situação e que Caio já tinha dito que só sairia de casa com a polícia. “Mas de qualquer forma, eu vou ter que ir lá na casa”. Além disso, em áudio, Vanessa diz que a medida protetiva ainda não pôde ser assinada porque depende de um mandado judicial.

“No final, Vanessa cita que está decepcionada e esgotada mentalmente. “Eu estou me sentindo culpada, porque eu fui registrar o BO.Eu estou bem impactada com o atendimento da Casa da Mulher Brasileira. Eu que tenho toda a instrução, escolaridade, fui tratada dessa maneira, imagina uma pessoa, uma mulher vulnerável lá. Essas que vão para a estatística do feminicídio”.

O que é relatado por Vanessa no áudio desmente totalmente o que foi dito pela delegada titular da Deam, Elaine Benicasa e pela adjunta, Analu Ferraz, na quinta-feira (13), em entrevista coletiva. As duas enfatizaram em 20 minutos falando à imprensa que foi dado todo suporte à Vanessa, mas que ela não teria aceitado e que decidiu ir por conta própria à casa

Em vídeo, o delegado-geral da Polícia Civil de Mato Grosso do Sul, Lupérsio Degerone Lucio, deu um posicionamento sobre os relatos divulgados em áudio. Ele afirma que a “Polícia Civil está e estará sempre do lado da vítima e dos familiares. Externamos a nossa solidariedade”.

Lupérsio disse ainda que, por orientação do governador do Estado, Eduardo Riedel (PSDB) e da Sejusp (Secretária Estadual de Justiça e Segurança Pública), foi instaurado um procedimento para apurar a situação. “Quero enfatizar que tivemos uma reunião para aprimorar o atendimento às vítimas no âmbito da delegacia até o posterior deferimento das medidas”. ( Informações Campograndenews).

A ADEPOL-MS (Associação dos Delegados de Polícia de Mato Grosso do Sul) emitiu nota pública. Confira:

A Associação dos Delegados de Polícia de Mato Grosso do Sul (ADEPOL/MS) reitera as mais profundas condolências e pesares aos amigos e familiares da vítima de feminicídio Vanessa Ricarte, morta covardemente por Caio Nascimento, com quem mantinha relacionamento e reitera o mais profundo repúdio a qualquer forma de violência contra a mulher. No entanto a ADEPOL-MS vem a público esclarecer que não aceita a forma unilateral e abusiva com que o crime passou a ser tratado após a veiculação de um áudio atribuído à vítima, contendo críticas ao atendimento recebido pela DEAM. O autor dessa tragédia está preso e responderá pela atrocidade cometida perante a Justiça, e a Polícia Civil, por intermédio da DEAM, ofereceu todas as orientações e todas as medidas existentes para a tutela da segurança e vida da vítima, seguindo todo o protocolo operacional existente até então, inclusive com a orientação de não voltar para casa e permanecer no alojamento da Casa da Mulher Brasileira, sugestão que não foi aceita pela vítima e não pode ser coercitiva. Frise-se que o fornecimento de dados criminais é sigiloso, dados sigilosos não foram fornecidos para a vítima e não serão fornecidos doravante para outras pessoas, por mandamento legal. Se o protocolo precisa ser aprimorado, o será, pois já ocorreu uma primeira reunião entre o Poder Judiciário, a Secretaria de Justiça e Segurança Pública e a Delegacia-Geral da Polícia Civil, mas atribuir o resultado desse crime à Delegada de Polícia que atendeu a ocorrência observando todo o protocolo existente, não coaduna com o que aconteceu e cria mais uma situação de injustiça contra uma mulher trabalhadora, mãe de família e cidadã que é a Delegada de Polícia. O autor dessa tragédia é o feminicida preso, alterar ou subverter essa verdade não se justifica.

O SindJor-MS (Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Mato Grosso do Sul) pretende criar uma comissão para acompanhar e cobrar providências sobre o feminicídio da jornalista Vanessa Ricarte.

Segundo o presidente do SindJor-MS, Walter Gonçalves, durante o protesto pedindo por justiça, a ideia é propor aos deputados e governadores um grupo formado por jornalistas, familiares e sociedade civil para acompanhar o processo.