As eleições acabaram! Agora é Brasil! Por José Otávio Menten

23.03.2012 - ANDEF Fotos: Tatiana Ferro

As eleições de 2022 foram as mais polêmicas do Brasil. A terceira via não decolou e houve intensa polarização, radicalização e foi decidida por uma pequena margem de votos. O presidente foi eleito com cerca de 51% dos votos válidos; isso significa 49% de votos contrários, mas 30% dos eleitores não votaram em qualquer um dos candidatos no 2º turno: foram as abstenções e votos brancos e nulos. Provavelmente eleitores que não tiveram confiança em nenhuma das opções apresentadas.

Dessa forma, o novo presidente vai começar o governo com provável apoio popular reduzido, com poder legislativo majoritariamente contrário e com um poder judiciário que muitos entendem apresentar hiperativismo. Com a dificuldade do executivo e do legislativo resolverem seus problemas, tem sido cada vez mais frequente a judicialização das disputas, o que acaba enfraquecendo o executivo e o legislativo e fortalecendo o judiciário!

Os debates entre os candidatos foram decepcionantes, mais insultos que apresentações de propostas e discussões de soluções para problemas nacionais. Isto culminou com um clima de derrota inaceitável pelos perdedores das eleições. E as manifestações continuaram incluindo reuniões em frente a quartéis, bloqueios nas rodovias, e agressões mútuas nas mídias sociais.

Os valores nacionais têm sido colocados como partidários: patriotismo, nossa bandeira, verde e amarelo. Vamos entrar na copa do mundo de futebol e o Brasil ainda é o “país do futebol”. As coisas não precisavam estar misturadas! Estes valores são da sociedade brasileira. Não tem dono! Muito menos partido ou grupo político.

O quadro atual é extremamente complexo e preocupante: nova realidade institucional, problemas financeiros, pressões sociais e parte da população mais atuante, chegando aos excessos. E ainda se questiona a validade das eleições! É fundamental o respeito à democracia e a constituição. É necessário diálogo!

Algumas medidas a serem tomadas são importantes e urgentes: voltar à normalidade / tranquilidade, menos judicialização na política, surgimento de novas lideranças (estadistas), melhor entendimento entre grupos políticos adversários e equilíbrio nas discussões de temas polêmicos (regulamentação das mídias sociais, privatizações, aborto, maioridade penal, liberdade de informação, invasão de propriedades privadas, respeito à diversidade , etc), reorganização partidária, ampliação da democracia participativa, fortalecimento de instituições e entidades, entendimento do papel das forças armadas, entre outros.

O novo governo, incluindo executivo, legislativo e judiciário, tem como principal objetivo restabelecer a paz na sociedade e possibilitar que o Brasil se recupere da turbulência atual, reorganizando o orçamento, com equilíbrio das contas públicas, que reflitam na melhor qualidade de vida da população. Temos que aprimorar nossa educação, saúde, segurança, meio ambiente, agro, etc. A inflação alta é o maior problema para os mais pobres. As manifestações de nossas autoridades devem ser equilibradas, evitando problemas e o acirramento dos ânimos e trazendo mais esperança à população. Vamos derrubar muros e construir pontes. É estressante viver em um ambiente com extremismos.

O Brasil é visto como uma grande potência agrícola e ambiental pelo mundo. O meio ambiente é a chave para a retomada do crescimento. É fundamental que sejam apresentadas propostas claras para darmos sequência a revolução tropical, iniciada na década de 70 e que foi sendo construída com a participação de profissionais competentes e comprometidos. Não se admite mais corrupção e decisões não validadas pela sociedade e incompetência técnica e de governança.

Temos que cuidar da Amazônia e dos outros biomas. Temos que produzir alimentos, fibras e bioenergia para a população brasileira e para o mundo. Grandes desafios que precisam de foco, vontade política e ações de agentes públicos e privados que pensem no Brasil.

Embora tenhamos instituições e estruturas consolidadas no agro, há necessidade de aprimoramento quanto à segurança fundiária, controle de ilegalidades, como desmatamento e incêndios, investimento na infraestrutura e logística, mais atenção ao crédito e seguro, entre outras ações que envolvem o novo governo. Muito trabalho pela frente!

Por José Otávio Menten, Engenheiro Agrônomo, Professor Sênior USP/ESALQ e Presidente do CCAS (Conselho Científico Agro Sustentável)