Prof. Historiador e pesquisador investigativo Yhulds Giovani Pereira Bueno. Mestre em Desenvolvimento Regional e Sistemas Produtivos UEMS – Pós Graduado: Ensino em História e Geografia. UNIVALE – Pós Graduado: Ensino da História UNIBF – Pós Graduado Docência em Biblioteconomia UNIBF. Membro do Rotary Club Ponta Porã/Pedro Juan Caballero – Guarani – Distrito 4470.
INTRODUÇÃO:
Para compreender o importante processo da criação da primeira Loja Maçônica em Ponta Porã no ano de 1915, ressalta-se que neste mesmo ano o município foi elevado à categoria de comarca pela Leia n˚ 721 de 23 de setembro, sancionada pelo General Doutor Caetano Manoel de Faria Albuquerque Presidente do Estado de Mato Grosso. “Faço saber todos os seus habitantes que a Assembleia Legislativa decretou e eu assino a presente lei: Art. 1º Fica elevado à categoria de Comarca o município de Ponta Porã, com sede na vila de mesmo nome”. Despacho realizado de seu gabinete na Capital Cuiabá.
Imagem1: Arquivo pessoal do autor, resolução Lei nº 721 de 23 de setembro de 1915. Fonte cópia publicada no livro do Drº João Portela Freira Terra, Gente e Fronteira.
CONTEXTO HISTORIOGRÁFICO DA MAÇONARIA NO BRASIL
Segundo o historiador e maçom Borges de Barros que foi segundo fontes historiográficas diretor do Arquivo Público da Bahia, o início da Maçonaria em terras brasileiras tem como gênese a povoação da Barra em Salvador Bahia no ano de 1797 com a criação da “Loja Maçônica Cavaleiros da Luz” sendo esta para Borges a chama principal da Conjuração Baiana. “Apesar dos esforços de muitos autores maçons em negar isso o pioneirismo maçônico brasileiro nasceu no Nordeste” Fonte: (https://folhadolitoral.com.br/maconaria/a-loja-maconica-mais-antiga-do-brasil).
De acordo com registros na página do GOB – Grande Oriente do Brasil embora tenha a Maçonaria brasileira tenha seu início no ano de 1797 com a “Loja Maçônica Cavaleiros da Luz”, que foi no ano de 1802, sucedida pela Loja Reunião no Rio de Janeiro, somente em 1822, quando desperta a campanha pela independência do Brasil por D. Pedro I nas margens do Ipiranga, que fora criada a “primeira Obediência, sendo esta com Jurisdição nacional”, com a incumbência de apoiar o processo de emancipação política, no qual o Brasil passaria de colônia do Império Português para uma nação independente sul-americana.
Semelhante ocorrido nas guerras de independência na América espanhola narrados na historiografia, decorrente dos numerosos conflitos das colônias hispânicas contra a subjugação do Império Espanhol circunstanciado na América do Sul decorrentes no início do século XIX, a partir do ano de 1808 até meados do ano de 1829. O conflito que começou nas colônias finalizou com a independência: Equador 1809, Colômbia 1810, Paraguai em 1811, Venezuela 1811, Argentina em 1816, Chile em 1817-1818, Peru em 1921 e posteriormente: Bolívia em 1925. O Brasil Império que neste período histórico era colônia portuguesa e havia ocupado a área do Uruguai em 1811 anexando aos seus domínios em 1821 denominando de Província de Cisplatina, mas a revolta que começou em 25 de agosto de 1825, finalizou com o Uruguai conquistando após muita luta sua independente com o Tratado de Montevidéu em1828.
Fonte: https://www.historiadomundo.com.br/idade-contemporanea/independencia-da-america-espanhola.htm
Izautonio da Silva Machado Junior em seu artigo A MAÇONARIA NAS AMÉRICAS: Influência na emancipação das colônias espanholas referencia que “Os principais líderes que atuaram pela independência desses países foram os venezuelanos Francisco Miranda e Simon Bolívar e o argentino José De San Martín. O autor descreve que segundo José Castelani – A Ação Secreta da Maçonaria na Política Mundial, a Independência dos países latino-americanos é uma das maiores ações políticas já realizadas pela maçonaria da história. Izautonio da Silva Machado Junior indica eu seu texto que: “Embora não haja comprovação de que MIRANDA tenha sido iniciado maçom, criou com o apoio da Maçonaria Inglesa denominada Grande Reunião Americana, entidade política que tinha por escopo promover a Independência dos países americanos subjugados pelos espanhóis”. Bolivar e San Martin eram maçons, e de acordo com sua textualização encontravam-se ao lado de outros Irmãos ilustres da Ordem, aderindo ao projeto da Grande Reunião Americana. Em sua explanação Izautonio da Silva Machado Junior ressalta que desta entidade nasceu uma Loja denominada “Lantauro” na Argentina, a qual deu origem a diversas outras com mesmo nome espalhadas pelas colônias, e que tinha por finalidade implantar os ideais libertadores planejados pelos seus líderes. Izautonio da Silva Machado Junior destaca que o nome Lantauro “se refere ao nome de um guerreiro araucano morto no sul do Chile por defender suas terras dos espanhóis”. Em sua analogia Izautonio da Silva Machado Junior menciona que: “Paralelamente, a própria Grande Reunião Americana instalou sucursais em França e Espanha, recebendo apoio da Maçonaria Regular da Espanha e também dos Carbonários espanhóis”. Por meio deste artigo fica nítido que o inicio das revoltas das colônias hispânicas se deu por intermédio das “Lojas e entidade acima descritas, que foram organizados os movimentos de insurreição que desencadearam nas guerras de independência, e que, portanto são as responsáveis pela atual configuração política das Américas”. Fonte: https://fn.mvu.com.br/site/a-maconaria-nas-americas–influencia-na-emancipacao-das-colonias-espanholas-/twn0kPj4SZI-3/nta.aspx
FUNDAÇÃO DA LOJA MAÇÔNICA: “ESTRELA DO SUL 5ͣ”
De acordo com a narrativa de Pedro Angelo da Rosa em seu livro ANNAES PONTA-PORENSES 1865-1922, no ano de 1915 ocorreu à fundação da Loja Maçônica Estrela do Sul 5ͣ , sendo eleita a seguinte diretoria: “Presidente, Alvaro Brandão; primeiro vice-presidente; Antonio Machado salgueiro; segundo vice-presidente, Alvaro José Brandão; orador, Callyope Nazareth, secretário Francisco Faustino de Mecenas”. (ROSA, 1922, p. 35).
Figura 2: Imagem do Livro: Annaes Ponta-Porenses edição de 1865 – 1922 de Pedro Angelo da Rosa.
Segundo Rosa (1922) o mesmo descreve que: Após a formação da diretoria iniciaram-se as obras para construção do edifício “num sítio junto à intendência Municipal […] Porém, precária foi à duração da loja; os tijolos do edifício foram mal assentados, e quando o mesmo estava a ficar pronto, notou-se pronunciada inclinação, ameaçando o desabamento, e o edifício teve de ser demolido […] No seio da irmandade, penetraram as prevenções da política, e a mesma teve de adormecer”. (ROSA, 1922, p. 35). Desta maneira a primeira Loja maçônica de Ponta Porã que neste período histórico pertencia ao estado de Mato Grosso, “Estrela do Sul 5ͣ” apagou seu brilho na fronteira.
Figura 3: Imagem do Livro: Annaes Ponta-Porenses edição de 1865 – 1922 de Pedro Angelo da Rosa.
BREVE HISTÓRICO DA MAÇONARIA EM MATO GROSSO
Para compreender a fundação da loja “Estrela do Sul 5ͣ” quando Ponta Porã pertencia ao Estado de Mato Grosso é necessário analisar explanação de Antônio Horácio da Silva Neto que publicou matéria À LUZ: Um passeio pela história da maçonaria em Mato Grosso neste artigo o mesmo descreve que:
“A História da Maçonaria em Mato Grosso na sua atual conformação geográfica tem estreita e umbilical ligação com a História da Benemérita Augusta Respeitável e Centenária Loja Simbólica Acácia Cuiabana. Não há como se fazer qualquer estudo histórico desse tema que não passe pelo estudo da centenária Oficina Maçônica cuiabana, razão pela qual é obrigatório neste singelo artigo que se busca iniciar uma passagem em revista sobre um pouco de sua longa e profícua história. Digo um pouco porque o espaço num artigo jornalístico não permite detalhar com minudência os multivariados acontecimentos históricos dos quais participou nos rincões mato-grossenses”. Antônio Horácio da Silva Neto fonte: http://circuitomt.com.br/editorias/cidades/120559-um-passeio-pela-historia-da-maconaria-em-mato-grosso.html Acesso Julho de 2021
No ano que a matéria foi publicada comemorava-se o aniversário de 117 anos da loja maçônica mais antiga em funcionamento em MT e os 45 anos de instalação do Grande Oriente do Estado (GOE). A interessante analogia sobre o GOE vem da necessidade de:
“Criação de uma Loja Maçônica para congregar os maçons que viviam dispersos em Cuiabá/MT, uma vez que por volta de 1895/96 às colunas da Loja “Estrela do Ocidente” tinham se abatido e deixados os maçons que por aqui perambulavam sem um local para a prática de seus trabalhos ritualísticos. Contatos foram realizados e no dia 18 de maio de 1900 houve a reunião no Salão da Sociedade da Escola Dramática, situada na Rua Barão de Melgaço nº 05. Na reunião para a regularização e instalação da Loja Maçônica Acácia Cuiabana, ocorrida no dia de 12 de outubro de 1900. Com essas rápidas pinceladas, é que se pode dizer ter sido assim criada a Benemérita Augusta Respeitável e Centenária Loja Simbólica Acácia Cuiabana”. Antônio Horácio da Silva Neto fonte: http://circuitomt.com.br/editorias/cidades/120559-um-passeio-pela-historia-da-maconaria-em-mato-grosso.html Acesso Julho de 2021
Neto (2017) apresenta períodos que foram se suma importância para a consolidação das colunas no grande Estado de Mato Grosso, destaco em sua narrativa o 2˚ Período para compreender a fundação da Loja “Estrela do Sul 5ͣ” em ponta Porã no ano de 1915.
De acordo com Antônio Horácio da Silva Neto, o 2º Período de 24/02/1907 a 28/08/1928: “Foi o da consolidação política e social da Loja Acácia Cuiabana, o que se dá com a nova Constituição Maçônica do Grande Oriente do Brasil, promulgada em 24 de fevereiro de 1907, e a nomeação do Primeiro Delegado do Grão-Mestre Geral, demonstrando o relacionamento com o Poder Central situado no Rio de Janeiro/RJ. A nomeação desse primeiro Delegado do Grão-Mestre Geral recaiu na pessoa de Generoso Paes Lemes de Souza Ponce (grau 33), que era também o Presidente do Estado e para ser o seu Secretário na Delegacia foi nomeado Antonio Fernandes Trigo de Loureiro. A nova Constituição Maçônica do Grande Oriente do Brasil de 24 de fevereiro de 1907 veio com algumas inovações, inclusive com a extinção dos Capítulos das Lojas, dos Conselhos de Kadosh, dos Consistórios e da Grande Loja Central. Mas ainda não se tratava da separação esperada dos graus simbólicos com os graus filosóficos”. Antônio Horácio da Silva Neto fonte: http://circuitomt.com.br/editorias/cidades/120559-um-passeio-pela-historia-da-maconaria-em-mato-grosso.html Acesso Julho de 2021
A consolidação da GOE tinha como intenção reagrupar os maçons que estavam dispersos neste período histórico e levantar novas colunas, com a fundação de novas Lojas na Capital e no Estado de Mato Grosso, sendo assim no ano de 1915 ocorre à fundação da primeira Loja Maçônica em Ponta Porã descrita por Pedro Angelo da Rosa em seu livro ANNAES PONTA-PORENSES 1865-1922 que foi publicado no ano de 1922.
HISTORIOGRAFIA DE PONTA PORÃ DE VILA À EMANCIPAÇÃO POLÍTICA.
1915 foi um ano impar para o município de Ponta Porã com sua elevação para categoria de comarca, mas anteriormente sua emancipação foi publicada através da resolução nº 617, de 18 de Julho de 1912. Oficializada através da assinatura do Dr. Joaquim Augusto da Costa Marques, Presidente do Estado de Mato Grosso. “Artigo 1º – Fica criado o Município de Ponta Porã, com sede no povoado de mesmo nome, que será desde logo elevada à categoria de Villa”.
Imagem 4: Arquivo pessoal do autor resolução de 1912, fonte cópia publicada no livro do Drº João Portela Freira Terra, Gente e Fronteira.
No ano de 1913 é registrada à ata de Instalação, segue o registro de abertura: “Aos vinte e cinco dias do mês de Março de 1913 as 10h00min da manhã do mesmo dia, neste mesmo dia no povoado de Ponta Porã, comarca de Bela Vista, Estado de mato Grosso, republica dos Estados unidos do Brasil, em casa previamente alugada para nela funcionar a Intendência Municipal. Nesta ata consta assinatura de pessoas importantes da época que se fizeram presente no referido ato”.
Imagem 5: Arquivo pessoal do autor, Ata de Instalação. Fonte cópia publicada no livro do Drº João Portela Freira Terra, Gente e Fronteira.
Seguindo a cronologia histórica da emancipação de Ponta Porã, é publicado o ato que define a criação do Município de Ponta Porã, neste ato também e mencionado a emancipação da cidade de Três Lagoas, através da Resolução Nº 820, de 1920, assinada por D. Francisco de Aquino Corrêa, Bispo de Prusiado, Presidente do Estado de Mato Grosso. “Faço saber a todos os seus habitantes que a Assembleia Legislativa decretou e eu assinei a seguinte Resolução”. Artigo Único – Ficam elevados a categoria de cidade as Villas de Três Lagoas e Ponta Porã, sede dos municípios e comarcas dos mesmos; revogada as disposições ao contrário”.
A conquista da emancipação foi o primeiro passo de muitos que ainda estariam por vir para a histórica cidade de fronteira, obstáculos estruturais a serem vencidos. Dificuldades que ao longo das décadas ainda persistem, mas algumas foram superadas, por todos aqueles que são filhos desta terra ou adotaram como sua morada investindo acreditando no seu potencial.
Imagem 6:Arquivo pessoal do autor, resolução nº 820, de 1920. Fonte cópia publicada no livro do Drº João Portela Freira Terra, Gente e Fronteira.
A importância destes registros memoriais em livros e documentos oficiais de época proporciona um entendimento dos motivos da emancipação política de Ponta Porã. Além disto, rememorar fatos históricos de eventos que marcaram o povoamento da região fronteiriça em especial Ponta Porã no final do século do XIX e inicio do século XX, proporciona conhecimento para todos aqueles que buscam informações sobre suas raízes socioculturais, pois um povo sem memória e um povo sem história.
FONTES PARA PESQUISA:
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ACTA de la independencia de Venezuela de 1811» (PDF). Universidad Central de Venezuela.
BECKER, M. (2008) Indians and Leftists in the Making of Ecuador’s Modern Indigenous .
CASTELLANI, José. A ação secreta da Maçonaria na política mundial. 2. ed. São Paulo: Editora Landmark, 2007.Movements, Duke University Press Books.
COLUSSI, Eliane Lúcia. A Maçonaria brasileira no século XIX. São Paulo: Saraiva, 2002.
BENITEZ, Luis G. Reseña de historia del Paraguay. Asunción: Editorial Histórica, 1993.
LA INDIAS no era colonias, Ed. Espasa-Calpe, México, 1951. Ver também Los orígenes del gobierno REPRESENTATIVO EN EL PERÚ: las elecciones (1809-1826), Valentín Paniagua, Fondo Editorial PUCP, Lima, 2003.
FIGUEIRA, José Joaquín. Breviario de Etnología y Arqueología del Uruguay. Montevidéu: Imprenta Gaceta Comercial, 1965.
FERREIRA, Fábio. O general Lecor, os Voluntários Reais, e os conflitos pela independência do Brasil na Província Cisplatina: 1822-1824. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-Graduação em História (PPGH) da Universidade Federal Fluminense (UFF): Niterói, 2012.
https://brasilescola.uol.com.br/guerras/guerra-independencia-chile.htm. Acesso em 09 de julho de 2021.
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https://folhadolitoral.com.br/maconaria/a-loja-maconica-mais-antiga-do-brasil
PRADO, Maria Lígia Coelho. Esperança radical e desencanto conservador na Independência da América Espanhola. História, São Paulo, 2003.
Prof. Pesquisador investigativo Me. Yhulds Giovani Pereira Bueno. Mestre: Desenvolvimento Regional e Sistemas Produtivos UEMS – Pós Graduado: Ensino em História e Geografia. UNIVALE – Pós Graduado: Ensino da História UNIBF – Pós Graduado Docência em Biblioteconomia UNIBF. Membro do Rotary Club Ponta Porã/Pedro Juan Caballero – Guarani Distrito 4470.