Artigo: Aprender a gostar do que não gosto

Wilson Aquino*

Ser sábio é aprender com os exemplos daqueles que souberam vencer obstáculos e alcançar êxito ao trilhar o mesmo caminho que percorremos. Em diversas fases da vida, somos confrontados com situações que exigem mudanças drásticas, e muitas vezes, precisamos aprender a gostar daquilo que inicialmente rejeitamos, seja no campo físico, moral, intelectual ou espiritual, para que possamos colher os frutos dessas transformações. Esse processo implica alterações profundas em nossos pensamentos, hábitos, costumes e até na alimentação.

A resistência a essas mudanças é algo natural, mas pode ser perigosa. Aqueles que adotam a mentalidade de “eu nasci assim e vou morrer assim” frequentemente limitam seu próprio desenvolvimento. Crescer e evoluir, em qualquer uma das áreas mencionadas, requer disposição para enfrentar e superar os obstáculos internos que todos carregamos. Muitos desses obstáculos não são fruto do acaso, mas parte de um desafio universal, um convite para vencer nossas tendências preguiçosas, nocivas ou autodestrutivas.

Um exemplo clássico de alguém que aprendeu a gostar do que não gostava é o ex-presidente americano Abraham Lincoln. Ele era conhecido por suas dificuldades iniciais em oratória e debates, áreas fundamentais para sua carreira política. Lincoln sabia que, se quisesse ter sucesso, precisaria se esforçar em algo que não dominava. Com persistência, ele transformou essa fraqueza em uma de suas maiores forças, sendo lembrado até hoje por seus discursos poderosos e inspiradores, como o “Discurso de Gettysburg”, que marcou a história dos Estados Unidos.

No campo físico, um exemplo contemporâneo é o do atleta brasileiro Fernando Fernandes, ex-BBB e modelo, que após um acidente se viu obrigado a conviver com a paraplegia. Ao invés de se entregar ao desespero, Fernando aceitou sua nova condição e começou a praticar paracanoagem, uma modalidade na qual se destacou mundialmente. Ele aprendeu a gostar de um novo estilo de vida, adaptado às suas novas limitações, e se tornou um símbolo de superação e força de vontade.

No campo moral, temos a figura de Nelson Mandela, que passou 27 anos na prisão lutando contra o apartheid na África do Sul. Mandela aprendeu a gostar da paciência e do autocontrole que a prisão lhe impôs. Ao invés de sucumbir ao ódio ou ao desespero, ele usou esse tempo para se preparar mentalmente e espiritualmente para liderar uma nação fragmentada, trazendo paz e reconciliação a um país dividido.

Na Bíblia, encontramos diversos exemplos de pessoas que, diante de grandes desafios, precisaram aprender a gostar ou, ao menos, aceitar aquilo que inicialmente não desejavam, para que pudessem cumprir seu papel e alcançar um propósito maior. Um exemplo claro é o de Jonas. Deus o instruiu a ir à cidade de Nínive para pregar arrependimento, mas Jonas não queria cumprir essa missão. Ele tentou fugir de sua responsabilidade, mas acabou sendo confrontado pelo próprio Deus, que o fez entender a importância de aceitar a missão. Apesar de não gostar da ideia, Jonas acabou indo e, através de sua pregação, salvou a cidade. Aprendeu, de forma difícil, a cumprir o que não gostava, reconhecendo o valor dessa obediência.

Outro exemplo é o do profeta Moisés. Inicialmente, Moisés não se via apto para a missão que Deus lhe confiou: libertar os israelitas da escravidão no Egito.

O apóstolo Paulo também é um exemplo notável. Antes de se converter ao cristianismo, Paulo (então conhecido como Saulo) perseguia os cristãos com fervor. No entanto, após sua conversão, ele teve que aprender a aceitar e até amar a missão que antes desprezava: pregar o evangelho que ele outrora combatia. A jornada de Paulo é uma das mais significativas no Novo Testamento, mostrando que mesmo aquilo que inicialmente rejeitamos pode se tornar nossa maior fonte de realização espiritual e moral.

Por fim, Jesus Cristo nos oferece o exemplo mais poderoso. No Jardim do Getsêmani, antes de sua crucificação, Ele orou ao Pai, pedindo, se possível, que o “cálice” do sofrimento fosse afastado d’Ele. Jesus não gostava da dor e do sacrifício iminente, mas ainda assim, aceitou a vontade de Deus e seguiu adiante, sabendo que seu sacrifício traria salvação à humanidade. Ele nos ensina que, às vezes, a maior demonstração de amor e obediência está em aceitar o que não gostamos, em nome de um propósito maior.

Esses exemplos nos mostram que é possível, e muitas vezes necessário, mudar nossa atitude diante daquilo que não gostamos. Aprender a gostar do que não gostamos pode ser um caminho árduo, mas essencial para o crescimento pessoal e para alcançar nossos objetivos. Afinal, como diz a sabedoria popular: “O que não nos desafia, não nos transforma”.

*Jornalista e Professor