04/02/2018 02h14
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Douradosagora
Operação da Polícia Militar, em parceria com a Fundação Nacional do Índio (Funai) vai atacar crimes como o tráfico de drogas e receptação na Reserva indígena de Dourados. De acordo com o coordenador da Funai, Fernando de Souza, houve uma pactuação entre a entidade e a Polícia Militar, através do tenente-coronel Carlos Silva há cerca de um mês. “De lá para cá as equipes policiais voltaram a fazer as rondas noturnas nas aldeias, já que a Funai se comprometeu a acompanhar todas elas, evitando assim a insegurança de profissionais para atuar dentro de uma área federal”, ressalta.
Fernando explica ainda que, no mês de janeiro, todos os trabalhos da PM com a Funai foram preventivos e educativos, mas que a partir desse mês a operação será ostensiva com previsão, inclusive, de abordagens e revistas pessoais.
O coordenador da Funai explica ainda que a atuação da Polícia Militar atende a um pedido das lideranças e da própria comunidade indígena que tem registrado altos índices de violência, causados em sua maioria por uso abusivo de álcool e drogas. “A nossa expectativa é a de reduzir drasticamente a violência na Reserva nos próximos seis meses de operação. Para se ter ideia, a presença da PM teve uma boa repercussão e já coibiu algumas práticas como os pequenos roubos e furtos na reserva”, conta. Fernando diz que a Funai tem trabalho para garantir parcerias com instituições de ensino profissionalizantes e inserção de jovens no mercado de trabalho. “A presença da polícia, a retirada de drogas de circulação e repressão aos crimes, somados a oportunidade de educação, qualificação profissional e oportunidade de emprego podem ajudar na diminuição dos índices de criminalidade que afetam a todos”, destaca.
Recrutamento de crianças
Pelo menos 30% das crianças a partir dos 8 anos estariam recrutadas pelo tráfico de drogas dentro da Reserva Indígena de Dourados. A constatação é das lideranças como o guarani-kauá Silvio Leão, que por anos exerceu a função de cacique. Segundo ele, traficantes estão invadiram a reserva, viciam e recrutam crianças para o crime. “A estratégia é simples. Fornecem drogas de forma gratuíta e depois começam a cobrar. Os menores ficam sendo ameaçados e, para quitar a dívida, entram para o crime. As meninas chegam a se prostituir”, destaca.
O diretor da Escola Tengatui marangatu, Aginaldo Rodrigues conta que entre 2016 e 2017 foram apreendidas dezenas de armas brancas e papelotes de drogas com alunos. Ele disse que chama os pais dessas crianças mas eles dificilmente aparecem porque na maioria dos casos também são viciados. Segundo uma liderança que pediu para não ter o nome revelado, as crianças pegam a droga em pontos escondidos na reserva e já sabem para quem entregar. Segundo ele, a reserva é abastecida no período noturno com carros adulterados e com placas frias; veículos que são objeto do crime, vendidos com a finalidade de facilitar o transporte do tráfico na reserva. De acordo com membros do Observatório de Direitos Indígenas e do Conselho Indígena, após as 18h existe uma forte movimentação de veículos que chegam para entregar drogas e fomentar o tráfico no interior da Reserva.
Segundo as lideranças, a droga vem de laboratórios de fabricação no Paraguai. A droga chegaria através da entrega dos do trabalho “formiguinha” em que um grupo chegaria de Ponta Porã e em determinado ponto da BR ou de estradas vicinais entrega a droga para outro grupo. O crack ou a cocaína pura chegam na reserva em pequenas quantidades. São distribuídas e vendidas aos usuários.
Impérios do tráfico
De acordo com Sílvio de Leão, a comunidade vive amedrontada com os traficantes e demais criminosos que encontram na Reserva seu esconderijo. Segundo ele, famílias, que já sofrem com a situação de vulnerabilidade, perdem tudo o que conseguiram através dos programas sociais, para quitar dívidas das drogas.”Muitos desses criminosos fazem parte de quadrilhas especializadas em furtos, desmanches, receptação e tráfico de drogas. Daqui sai muito do que é roubado na cidade”, contou.
Homicídios
Com base nos dados oficiais do Ministério Público Federal, entre 2012 e 2014, o Brasil teve taxa média de 29,2 homicídios por 100 mil habitantes. Em Mato Grosso do Sul, a taxa foi de 26,1. Entre os indígenas de MS, este número sobe para 55,9. Já os indígenas da Reserva de Dourados enfrentam uma taxa de homicídios de 101,18 por cem mil habitantes. Os indígenas da região morrem por homicídio a uma taxa quase 400% superior aos não indígenas de MS.