Após expulsão à força, sem-terra são despejados e desocupam fazenda em Japorã

Confronto entre fazendeiros e militantes - DIVULGAÇÃO/Redes Sociais/FNL

Sem ordem da justiça, grupo armado obrigou militantes a deixarem o local e ateou fogo contra barracos.

Sem-terra foram despejados, por um grupo armado, da Fazenda Fernanda, localizada no município de Japorã, a 467 quilômetros de Campo Grande.

Conforme apurado pelo Correio do Estado, os militantes desocuparam o local e o acampamento já foi desmontado. Não havia nenhuma ordem de expulsão da justiça.

De acordo com a Frente Nacional de Lutas (FNL), fazendeiros e bolsonaristas se organizaram nas redes sociais para atacar a ocupação de terra no município.

Fazendeiros obrigaram os militantes a desocuparem o local e os expulsou à força. Barracos e casas foram incendiadas. Houve confronto e os militantes foram agredidos fisicamente.

O fogo destruiu grande parte da estrutura dos barracos e causou prejuízo para os sem-terra.

De acordo com a Frente Nacional de Lutas (FNL), os militantes estavam em busca de terras para plantar e morar, pois defendem a defendem “como espaço de bem comum e de função social”.

Veja as fotos do conflito:

Em vídeo postado nas redes sociais, o deputado federal, Guilherme Boulos (PSOL-SP), prestou solidariedade aos sem-terra em suas redes sociais e afirmou que irá acompanhar o caso e denunciá-lo.

“Milícias montadas por fazendeiros, muitos deles bolsonaristas, jagunços que se organizaram pra tirar na marra trabalhadores sem-terra que estavam ali lutando por terra, lutando por reforma agrária, muitas vezes em terras que tão totalmente largadas, abandonadas, sem nenhuma função social”, disse.

“Toda a minha solidariedade a militância da Frente Nacional de Luta, aos trabalhadores e trabalhadoras rurais sem-terra e nós vamos acompanhar esse caso para denunciar que é um absurdo a organização de milícias do campo no Brasil”, complementou.

MST

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) é um movimento social de militantes que lutam por terra e almejam conquistar a Reforma Agrária.

Ao todo, 450 mil famílias do MST estão presente em 24 estados das cinco regiões do País, inclusive em Mato Grosso do Sul.

Conforme apurado pelo Correio do Estado, existem mais de mil famílias do MST acampadas no Estado.

Em Mato Grosso do Sul, 450 famílias articuladas ao MST devem ocupar, neste mês de março, novas terras próximas a Ponta Porã, Rochedo e Corguinho.

“Existe a possibilidade de ocuparmos duas regiões distintas de Mato Grosso do Sul. De forma mais concreta, estamos articulando a ocupação próxima ao Assentamento Itamarati, próximo ao município de Ponta Porã, na fronteira com o Paraguai. Imaginamos ocupar o território com cerca de 400 a 450 famílias já nos próximos meses”, destacou ao Correio do Estado o coordenador nacional do MST, Claudinei Barbosa. 

Em entrevista exclusiva ao Correio do Estado, o deputado estadual, José Orcírio Miranda dos Santos (PT), mais conhecido como Zeca do PT, afirmou que acredita que não haverá ocupação de terras por parte dos militantes.

“Acredito que não aconteça, porque esse pessoal também tem bom senso e sabe que ocupar por ocupar não vai resolver. Na medida que o governo Lula está começando não tem ainda o recurso disponível para comprar. E o Lula quer comprar terra para fazer assentamento de forma pacífica. Não tem sequer recursos ainda porque recebeu terra arrasada do Bolsonaro”, disse.

Em entrevista exclusiva ao Correio do Estado, o deputado estadual Amarildo Cruz (PT), apoia o movimento e considera o grupo organizado, uma vez que, segundo o parlamentar, lutam por algo “extremamente justo” que é a democratização ao acesso à terra. 

“A terra não pode estar concentrada na mão de poucos em detrimento de muitos, inclusive de gente que depende e tem talento pra viver, principalmente a agricultura familiar, da pequena propriedade, para uma pessoa sozinha plantar de 50 a 70 mil hectares de soja, por exemplo, sem colocar nenhum tipo de alimento na mesa do brasileiro”, apontou.

Em contrapartida, o deputado estadual, João Henrique Catan (PL), é desfavorável aos movimentos e os considera como “criminosos”.

“São criminosos. É engraçado a gente ver um esforço  absurdo do Poder Judiciário a nível nacional, punir devidamente quem depredou patrimônio público. Isso é crime. Agora, nas leis, no direito penal, o crime de violação da propriedade privada, que deveria, neste momento, chamar tanta atenção e ser punido adequadamente, não tem a tratativa da mesma regra, no mesmo parâmetro”, frisou João Henrique.

Fonte: Correio do Estado