Andréa Ladislau: pedofilia começa no mundo virtual e vai para o real

 Psicanalista lembra que o diálogo dentro de casa é essencial
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Psicanalista lembra que o diálogo dentro de casa é essencial

Abusos sexuais e pedofilia são crimes que demonstram fragilidades sociais no quesito proteção à infância e adolescência contra a violência sexual no mundo.

Neste contexto, a novela Travessia da Rede Globo vem abordando o caso de uma adolescente que usa a internet para se relacionar com um pedófilo que se esconde através da identidade falsa de uma outra menina, com uso de recursos tecnológicos, para ganhar a confiança da vítima.

As cenas do assédio mostradas em rede nacional estão provocando muita discussão e levantando reflexões de extrema relevância no quesito limites de uso da internet para crianças e adolescentes, além de expor os riscos virtual de abuso sexual e pedofilia.

Infelizmente, estatísticas mostram o crescimento da cultura do abuso pedófilo, na qual 42% dos casos registrados em todo o Brasil ocorrem dentro da própria casa das vítimas.

Muitos casos surgem através de contatos e relações iniciadas através da internet, onde o abusador, escondido por um perfil falso, fideliza seu acesso a vítima. Um risco que aciona um alerta para a importância da escuta, do cuidado e do acolhimento dessas crianças e jovens, no sentido de evitar que possam ser marcados por traços de crueldade e perversidade.

A violência sexual iniciada na internet mostra a real urgência no gerenciamento do que os jovens estão consumindo através das redes. Com quem estão falando? O que está sendo falado? Que tipo de ambiente virtual é frequentando por eles? Quem está monitorando esses acessos e quanto tempo está sendo gasto neste consumo? Perguntas que precisam ser respondidas e medidas abordadas pelos responsáveis para evitar o aliciamento pelo abusador.

Felizmente, o mundo mesmo mundo virtual que traz o perigo, também possui diversos mecanismos de controle do acesso dos filhos, como: limitadores de tempo, plataformas de compartilhamento de atividades com os pais e o consumo restrito.

Além disso, é muito importante ter o canal de diálogo aberto com os filhos para que não sintam medo de dividir o que estão fazendo, além de derrubar o desejo destes de manter segredo de suas ações, uma das armas utilizadas por pedófilos para persuadir sua vítima e manter o anonimato.

As consequências dessa violência são as desordens psíquicas, acarretando inclusive, prejuízos evidentes na maturidade de suas relações interpessoais e afetivas. Além disso, a percepção da realidade e a sua capacidade de confiança em adultos, poderá apresentar sinais de fragilidade.

Os reflexos do abuso sexual no desenvolvimento biopsicossocial da criança e do adolescente devem ser levados em conta por toda a sociedade, a fim de promover intervenções psicológicas urgentes ao favorecimento da maturidade e senso de autoproteção e cuidado.

Enfim, o diálogo em casa e o monitoramento dos filhos ajudam a promover um ambiente de segurança e confiança, desmistificando a proteção e resguardo por parte dos pais.

Contudo, se faz necessário, alimentar o autocuidado e a autoestima para fortalecer a personalidade e a autonomia, contribuindo para que esse jovem consiga se posicionar diante de atitudes que possam vir a violar seus limites e sua individualidade.

Uma necessidade clara de acompanhamento e amparo psicológico, na tentativa de resgatar a confiança e a capacidade de sonhar de vítimas ceifadas pela crueldade sórdida de um adulto perverso e desumano.

Fonte: IG Mulher