A queda no isolamento vai refletir em número maior de casos nas próximas duas ou três semanas.
11/04/2020 07h10 – Correio do Estado
Mato Grosso do Sul conseguiu “roubar” do Tocantins a pior colocação no ranking brasileiro de isolamento social. Levantamento feito com dados de geolocalização aponta que somente 41,9% da população está ficando em casa. Mais da metade tem saído para a rua constantemente, ignorando o risco de contágio pela Covid-19.
Em Campo Grande, onde a taxa de cidadãos em quarentena já chegou aos 70%, a reabertura do comércio favoreceu a circulação especialmente no Centro.
Na Sexta-feira Santa, aglomerações no coração da cidade só não aconteceram porque as lojas fecharam, mas em frente às peixarias e nos supermercados, a população se amontoava nas filas para garantir as refeições.
O Mercado Municipal tinha a maior quantidade de pessoas esperando atendimento. O assessor administrativo do local, Daniel Amaral, disse que a gerência contratou duas pessoas só para obrigar os clientes a manterem distância mínima e controlarem a entrada para evitar lotação dentro da peixaria.
“As pessoas estão vindo de uma forma como não esperávamos. Calculamos que o movimento seria menor por conta da quarentena”, disse.
O problema é que muitas famílias foram em grupo até o local, o que gerou aglomerações. Além disso, a distância entre um cliente e outro diminuía à medida que eles se aproximavam da entrada.
A cena se repetiu em pelo menos dois estabelecimentos visitados pela equipe de reportagem. Os empresários providenciaram álcool 70% para higienizar as mãos de todos os frequentadores e controlaram a quantidade de pessoas que entravam nos comércios, de modo que o risco de contaminação ficou na calçada junto com as imensas filas.
“Campo Grande não está levando o novo coronavírus a sério. Eu sou caminhoneiro e trabalho com transporte de gás de cozinha, item essencial. Ontem estive em Coxim, Costa Rica e Chapadão do Sul. Todas tinham barreiras sanitárias na entrada da cidade e controles rigorosos de trânsito de pessoas. Aqui não”, opinou Everton Carvalho, 38 anos.
Para ele, o poder público local está fazendo sua parte, mas somente a conscientização não é suficiente.
“Por mais que o prefeito tente fazer alguma coisa, falta atitude da população em respeitar as medidas. Há muitas pessoas levando na brincadeira. Lá em casa, meu pai e meus filhos não saem por nada. A minha esposa sai quando é extremamente necessário e mesmo assim é só ela”, disse.
Neide Camposano é policial militar e cumpre expediente administrativo. Ela só deixa o lar para fazer o trajeto até o trabalho e observa muitas pessoas na rua. “As pessoas não ligam para o novo coronavírus. Se eu pudesse, ficava em casa”, disse ao Correio do Estado.
IMPACTO
O infectologista e pesquisador Júlio Croda disse que essa queda no isolamento vai refletir em número maior de casos nas próximas duas ou três semanas.
“Isso vai impactar no número de pacientes com síndrome respiratória aguda grave. Essa adesão ao isolamento que vai permitir que tenhamos leitos para todos no futuro”, afirma.
Para ele, os poderes públicos devem manter as medidas de controle. “Clamamos aos gestores que mantenham o isolamento, ao Ministério Público que aja efetivamente e ao comércio, que respeite o isolamento entre as pessoas e que mantenha o afastamento”.
O prefeito de Campo Grande, Marcos Trad Filho (PSD) disse que as empresas não estavam obedecendo ao isolamento e que permitiu a abertura com regras duras para evitar contágio de modo a pelo menos tornar o funcionamento dos estabelecimentos mais seguro.
“Houve uma fase de 80% de adesão ao isolamento. Após o pronunciamento do presidente da república contra o isolamento, a taxa caiu para 52% e passou a despencar. Já que eles estão desobedecendo, pelo menos vamos impor regras”, completou.