Nos últimos anos, escolas e educadores enfrentam um dos maiores desafios da história da educação: os déficits de aprendizagem provocados pela pandemia de COVID-19. O fechamento prolongado das escolas e a adoção emergencial do ensino remoto geraram impactos significativos no desenvolvimento acadêmico de milhões de crianças e adolescentes, evidenciando desigualdades e fragilidades do sistema educacional.
Em 2024, atendi dezenas de famílias em meu espaço psicopedagógico em Brasília, todas em busca de apoio para a aprendizagem de seus filhos. É comum que essa procura ocorra quando a criança ou adolescente apresenta dificuldades, seja devido a algum transtorno, seja pela dificuldade em assimilar o conteúdo escolar. No entanto, o que mais me surpreendeu foi o aumento significativo de casos em que os pacientes não tinham histórico prévio de dificuldades de aprendizagem, sugerindo que esses déficits possam ter se desenvolvido no período pós-pandemia.
Os Impactos no Aprendizado
Pesquisas indicam que estudantes de todas as idades foram afetados, mas aqueles em fase de alfabetização e ensino fundamental foram os mais prejudicados. Muitos alunos tiveram dificuldades para acompanhar conteúdos básicos de leitura, escrita e matemática, resultando em um atraso que pode se prolongar por anos. Além disso, a adaptação ao ensino remoto foi desigual: enquanto algumas crianças conseguiram manter um ritmo de aprendizagem adequado, outras enfrentaram barreiras como falta de acesso à internet, equipamentos inadequados e ausência de apoio familiar.
O Papel dos Professores e das Escolas
Com o retorno das aulas presenciais, professores enfrentam o desafio de lidar com turmas heterogêneas, onde alunos apresentam níveis distintos de conhecimento. Muitos educadores relatam dificuldades em revisar conteúdos sem comprometer o andamento do currículo escolar. Nesse cenário, estratégias como reforço escolar, aulas de recuperação e metodologias ativas têm sido essenciais para mitigar os danos.
Políticas Públicas e Soluções
Governos e instituições educacionais têm investido em programas de recuperação, como tutoria individualizada, aumento da carga horária para disciplinas essenciais e uso de tecnologia para personalizar o ensino. No Brasil, iniciativas como a busca ativa escolar tentam reverter o aumento da evasão escolar, outro problema agravado pela pandemia.
A Importância do Apoio Psicológico e Incentivo a Socialização
Além dos prejuízos cognitivos, o impacto emocional da pandemia sobre os estudantes não pode ser ignorado. A falta de interação social, o aumento da ansiedade e a insegurança em relação ao futuro também interferem no aprendizado. Dessa forma, o apoio psicológico nas escolas tem se tornado uma necessidade urgente para garantir o bem-estar dos alunos.
Minha filha tinha três anos quando a pandemia começou, e, na época, morávamos em Ponta Porã. Aos cinco anos, já em Brasília, retornou às aulas presenciais, ainda com o uso de máscara. Foi então que percebi um distanciamento entre ela e seus colegas, muitos pareciam acostumados a brincar sozinhos, mesmo os mais velhos. A socialização, que antes acontecia de forma natural, tornou-se um desafio, evidenciando o impacto do isolamento na interação entre as crianças.
Atualmente, ela está com sete anos e, de acordo com Piaget, encontra-se no Estágio Operatório Concreto (aproximadamente dos 7 aos 11 anos). Nesse período, há um grande avanço no pensamento lógico e na interação social. Diferente da fase pré-operatória (2 a 7 anos), em que o pensamento é mais egocêntrico, a criança nessa idade já começa a considerar o ponto de vista dos outros, compreendendo que as pessoas podem ter opiniões e sentimentos distintos dos seus.
Além disso, o interesse por amizades e grupos se torna mais evidente, demonstrando uma maior preocupação com a aceitação social. No entanto, com o isolamento social, muitas crianças e adolescentes passaram mais tempo diante das telas, consumindo jogos e vídeos na internet, o que impactou ainda mais suas interações sociais, um reflexo que ainda pode ser observado nos dias atuais.
Diante desse cenário, um dos grandes desafios das famílias é reduzir o tempo de exposição às telas e incentivar interações saudáveis. Para isso, estabelecer uma boa rotina é essencial. No meu Instagram @Psicopedagoga_julianarauzer, compartilho sugestões de rotinas adaptáveis para cada faixa etária, ajudando pais e responsáveis a promover um desenvolvimento mais equilibrado.
O Futuro da Educação Pós-Pandemia Recuperar os déficits de aprendizagem não será um processo rápido, mas especialistas apontam que a combinação de ensino adaptativo, reforço escolar e suporte socioemocional pode ajudar a reverter esse quadro. O momento exige esforços conjuntos de escolas, famílias e políticas públicas para garantir que essa geração de estudantes não seja permanentemente prejudicada pelos efeitos da pandemia.
Que possamos estar presentes e acompanhar de perto o desenvolvimento escolar de nossos filhos, buscando minimizar os impactos negativos do isolamento social e fortalecendo seu aprendizado e socialização.
Até a próxima, Psicopedagoga Juliana Rauzer