‘Impossível o ser humano combater’, diz chefe da brigada de incêndio em área isolada do Pantanal

Segundo Manoel Garcia, equipes se revezam para conter linha de fogo que atinge a Barra de São Lourenço, na divisa entre Mato Grosso do Sul e Mato Grosso.

Equipes do Ibama e do Instituto Homem Pantaneiro (IHP) entraram, nesta quarta-feira (16), no terceiro dia de trabalho para combater uma linha de fogo que chegou a 40 Km de extensão na comunidade de Barra de São Lourenço. A região está localizada em área isolada e preservada do Pantanal.

A informação foi repassada ao g1 MS nesta quarta-feira (16) pelo IHP e segundo o chefe da Brigada Alto Pantanal, Manoel Garcia, as condições locais têm dificultado a ação dos brigadistas.

“Nas condições em que os incêndios se apresentam é impossível do ser humano combater diretamente. A linha de fogo é muito grande, o vento faz o fogo mudar de direção toda hora. Por isso, a opção é proteger as vidas, fazer aceiros para a comunidade”, relata.

Ainda conforme o IHP, os incêndios no Pantanal vêm sendo registrados desde outubro do ano passado de forma ininterrupta. “Esse atual incêndio, inicialmente, teria sido causado por raio, entre sexta e sábado último. Essa origem da ignição ainda vai ser apurada”, explica a assessoria do IHP.

Segundo o chefe de Operações do PrevFogo, Charles Pereira, 25 brigadistas do Ibama e do Instituto Chico Mendes para a Conservação da Biodiversidade (ICMBio) estão em ação na região e buscam proteger, também, a sede do Parque Nacional do Pantanal Mato-grossense, atingido pelas chamas.

“O fogo está indo em direção a sede do parque. As equipes estão usando equipamentos e ferramentas e estruturas como helicóptero e embarcação para minimizar a situação”.

No fim da tarde desta quarta-feira, a assessoria do Ibama informou ao g1 MS que dez integrantes da equipe precisaram retornar à Corumbá em decorrência da baixa visibilidade causada pela fumaça.

‘Impossível o ser humano combater’, diz chefe da brigada de incêndio em área isolada do Pantanal

Preocupação com comunidades tradicionais

O Pantanal é marcado pela presença de comunidades tradicionais como ribeirinhos e indígenas. Na Barra de São Lourenço, localizada à margem esquerda do rio Paraguai, moram cerca de 100 famílias.

O acesso ao local ocorre somente de barco ou avião. As viagens de barco partem de Corumbá e podem demorar mais de 24 horas.

Conforme o IHP, o incêndio ameaça as famílias locais, principalmente, a casa de um dos mais antigos indígena Guató, Vicente. “Ele mora sozinho, na frente do rio São Lourenço

Desde segunda, há uma mobilização da Brigada Alto Pantanal, que é do Instituto Homem Pantaneiro (IHP), brigadistas do Prevfogo/Ibama para atuar na proteção da casa do seu Vicente e fazendo linhas de proteção para a comunidade da Barra de São Lourenço”, relata o instituto.

Seca extrema

O Pantanal enfrenta a pior seca já registrada e o nível do rio Paraguai vem apresentando recorde histórico. Nesta terça-feira (15), a régua de medição localizada em Ladário registrou o pior nível em 124 anos, medindo -67 cm.

Segundo o Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul), o nível médio do rio Paraguai para esta época do ano é de 1,8 metro. Os índices registrados em outubro deste ano são os piores da história e revelam que o Pantanal vive a estiagem mais severa desde 1964.

A escassez de chuvas tem preocupado pesquisadores e o Serviço Geológico do Brasil (SGB) alerta, desde fevereiro deste ano, para as mínimas históricas no nível do rio Paraguai.

Entre outubro de 2023 e setembro de 2024, a estimativa de chuva do SGB era de 1097mm, mas o total estimado foi de 702 mm, representando déficit de 395 mm. O órgão reforça que a recuperação dos níveis da Bacia do Rio Paraguai será lenta e a estimativa é de que o nível fique abaixo de zero até a segunda quinzena de novembro.

Fonte: G1 MS