Família ainda aguarda laudo necroscópico e vai cobrar indenização da União.
A certidão de óbito de Vinícius Ibañez Riquelme, de 19 anos, soldado do Exército que morreu após passar mal em treinamento do Exército de Bela Vista, atesta morte por realização de exercícios físicos rigorosos.
Na causa da morte do jovem, também constam choque, necrose centro lobular, distúrbio hidroeletrolítico, desidratação e síndrome infecciosa.
De acordo com um médico nefrologista ouvido pela reportagem, quando a pessoa é submetida a exercício físico extenuante há grande sobrecarga muscular, levando a lesões nos músculos. O corpo começa então a liberar enzimas, podendo resultar em sobrecarga para os rins ou insuficiência renal aguda. Se o exercício físico for somado à desidratação essa sobrecarga é ainda pior.
Nessas condições, o sistema circulatório do paciente fica em desequilíbrio total, que pode levar à situação de choque (alterações na pressão, batimentos cardíacos). A certidão de óbito também mostra infecção.
No distúrbio hidroeletrolítico, os eletrólitos do corpo (sódio, magnésio, potássio, cálcio) entram em descontrole. O potássio, por exemplo, é ligado ao batimento cardíaco.
Há quase dois meses no Exército, o soldado participou de treinamento entre os dias 22 e 26 de abril. A atividade era no campo e os participantes ficavam incomunicáveis.
No dia 26, a sexta-feira da formatura dos soldados, a mãe de Vinícius foi comunicada que ele estava no Hospital de Bela Vista.
“Ele não conseguia urinar, a boca ressecada, não respirava direito. Estava desidratado ao extremo”, conta Nilda Ibañez Acosta, de 42 anos.
Em choque com a gravidade, ela tentou explicação médica para o quadro. “Um médico perguntou se o Vinícius tinha doença preexistente. Disse que era um menino saudável. O médico me falou que foi muito esforço, treinamento pesado, acima do limite e muita falta de água”.
O soldado foi transferido para a Santa Casa de Campo Grande, onde morreu em 27 de abril.
Na tarde de domingo (dia 5), amigos e familiares do soldado fizeram protesto em frente ao Exército de Bela Vista.
Ação penal – De acordo com o advogado Fernando Lopes de Araujo, ainda é aguardado o laudo necroscópico, que ficará pronto em até 30 dias. O documento detalha a causa da morte e se houve algum tipo de violência.
“Com o laudo em mãos, iremos tomar as medidas cabíveis. Requerer ao Ministério Público que promova ação penal contra os responsáveis e ajuizar ação de indenização contra a União Federal”, afirma o advogado.
O histórico de atendimento mostra que Vinícius deu entrada no Hospital São Vicente de Paulo, em Bela Vista, em 26 de abril, último dia de treinamento. Segundo o advogado, nessa mesma data o soldado de 19 anos caiu desmaiado. Ele foi levado de ambulância para a enfermaria do quartel, onde permaneceu por cerca de quatro horas.
Já no hospital de Bela Vista, a equipe pediu vaga zero para Campo Grande. Ele saiu de lá às 19h30 e foi internado na Santa Casa, onde faleceu às 6h45 de 27 de abril.
Passado mais de uma semana do término do treinamento do 10º Regimento de Cavalaria Mecanizado de Bela Vista, que teve trágico saldo de uma morte e 89 militares que precisaram buscar atendimento médico por sintomas de infecção viral, o Exército ainda não divulgou qual vírus causou tamanho surto.
Na última nota à imprensa, publicada no sábado (dia 4), o Comando da 4ª Brigada de Cavalaria Mecanizada, com sede em Dourados, apontou que cinco militares permaneciam hospitalizados. Na semana passada, o Exército começou a imunização contra o vírus da gripe.
Contudo, conforme os comunicados, somente quatro casos tinham confirmação de Influenza, vírus da gripe, enquanto um tinha suspeita de dengue. Portanto, só há explicação para cinco doentes, sendo o quadro total de 89 contaminados.
Nesta sexta-feira (dia 3), a reportagem solicitou informação se o vírus já foi identificado e, especificamente, qual vírus provocou a morte do soldado Vinícius Ibañez Riquelme, mas não recebeu resposta. O espaço continua em aberto. O surto não atingiu os demais moradores da cidade de Bela Vista.
Sobre as denúncias de abusos no treinamento, o Exército informou que abriu investigação. “O Exército mantém-se firme no combate a abusos ou desvio de condutas, assegurando que, caso tais práticas tenham ocorrido, todas as responsabilidades serão rigorosamente apuradas”.
Mães dos soldados afirmam que os jovens foram obrigados a tomar água com barro e a comer cebola e limão com cascas, além da indicação de consumo de alho para quem não estava bem de saúde.
Fonte: Campograndenews