A Igreja Católica reconhece a natureza como sujeito de direitos, criada por Deus, e por isso é obra, presente e dom de Deus que precisa ser cuidada e preservada. A responsabilidade humana de cuidar da obra de Deus é compromisso de fé.
Importante, também, reconhecer que quem tem o conhecimento técnico, a informação objetiva das questões ambientais, da crise climática e do aquecimento global, são os cientistas. Todos percebemos as alterações climáticas, sentimos os efeitos das catástrofes ambientais que já não são tão naturais, sentimos as consequências de temperaturas extremas. Por isso são fundamentais o conhecimento, a informação científica e o diálogo com a ciência. Além da ciência, é importante considerar o conhecimento dos povos tradicionais, especialmente os povos indígenas, que há muito tempo nos alertam para as questões ambientais e para o cuidado da casa comum.
A Igreja Católica atua e trabalha a partir desses dois dados, o dado da fé e o dado científico. Não há contradição entre a fé e a ciência, há diálogo e complementação. A fé serve de motivação, de mística e a ciência contribui com a fundamentação técnica e metodológica.
O grande referencial para a ação da Igreja é o Papa Francisco, que tem sido um protagonista na questão ambiental. Em 2015 publica a Encíclica LAUDATO SI, um dos melhores documentos que temos hoje, no mundo, sobre a questão ambiental. Ela foi escrita não só para a Igreja, mas para todo o mundo, como contribuição da Igreja para a Conferência do Clima de Paris. Em Paris, o Papa foi uma das vozes mais contundentes para implementar ações para garantir que o aquecimento global não ultrapasse 1,5 graus até 2050. O termo ECOLOGIA INTEGRAL foi cunhado pelo Papa Francisco, e se refere a uma ecologia ambiental, ecologia social, ecologia humana e ecologia política.
Em 2019 o Papa Francisco convocou toda a Igreja para um Sínodo sobre a Amazônia, colocando mais uma vez em pauta o tema da ecologia integral, tendo agora como referência os nove países da Amazônia. Como resultado, o Papa Francisco lançou a Exortação Apostólica Pós-Sinodal QUERIDA AMAZÔNIA, que convoca mais uma vez para assumir-se a responsabilidade e o cuidado com a Casa Comum.
Em 2023, retomando e atualizando a Laudato Si, o Papa Francisco publica a Encíclica LAUDATE DEUM, que segue insistindo na responsabilidade dos governos e de toda a sociedade com o cuida da casa comum e com uma tomada de posição diante da crise climática. No Brasil a Igreja tem desenvolvido diversas campanhas, especialmente as campanhas da fraternidade com temas ambientais. Inclusive, a Campanha da Fraternidade de 2025 terá como tema a Ecologia Integral.
A ação localizada da Igreja é responsabilidade das dioceses. Aí é bom lembrar que muitas dioceses do Brasil tem a Pastoral da Ecologia Integral, com variações de nomes, mas com a mesma preocupação, com muitas e variadas iniciativas locais, como o trabalho com catadores de materiais recicláveis, com agricultura ecológica, agricultura familiar, segurança alimentar, preservação de mananciais de água, campanhas de reflorestamentos, sensibilização para a vida mais simples e consumo responsável.
Uma das organizações eclesiais que mais têm se preocupado com as questões ambientais, e das mais atuantes é a REPAM (Rede Eclesial Panamazônica), presente nos nove países que compõem a Amazônia. A REPAM tem trabalhado alguns temas fundamentais como: justiça socioambiental, defesa dos territórios tradicionais, campanhas contra as queimadas, proteção dos defensores e defensoras dos direitos humanos e dos direitos dos povos da floresta, o programa os guardiães ambientais, campanha Amazoniza-te, todos voltados para o enfrentamento da crise climática, das questões, socioambientais.
Outra posição firme da Igreja Católica é o espírito crítico quanto ao modelo econômico baseado no consumismo, nos grandes projetos econômicos, pautados na exploração exacerbada dos recursos naturais que tem como objetivo principal o lucro. É impossível uma economia com crescimento linear e permanente, com um planeta com recursos limitados e finitos. Portanto, como Igreja, acreditamos que esse modelo precisa ser repensado.
*Dom Evaristo Pascoal Spengler
Bispo da Diocese de Roraima (RR) e presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM-Brasil) e membro da Comissão Episcopal Especial para o Enfrentamento ao Tráfico Humano (CEPEETH) da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).