Deputado Neno: “O autismo é uma condição que afeta milhões de indivíduos e sua complexidade exige uma abordagem sensível e informada”.
Os sinais clínicos da criança com Transtorno do Espectro Autista (TEA), o diagnóstico, o tratamento, as formas como lidar com o comportamento infantil, os direitos e o futuro. Essas informações estão na cartilha “Autismo, conhecer para proteger”, lançada durante audiência pública, realizada nesta segunda-feira (23), na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (ALEMS).
“O autismo é uma condição que afeta milhões de indivíduos em todo o mundo, e sua complexidade muitas vezes exige uma abordagem sensível e informada. Com essa cartilha, almejamos oferecer informações valiosas e acessíveis a educadores, pais, cuidadores e comunidade em geral, visando à compreensão e ao respeito aos autistas. Profissionais contribuíram com expertise na área e, hoje, lançamos esse material com informações qualificadas e seguras”, destacou o deputado Neno Razuk (PL), propositor do evento.
São autores: Aretuza Coelho Bitencourt Martins, Ariadiny Gonçalves, Dayane da Costa Rodrigues Hildebrand, Diogo de Freitas Marques, Hugo Akio Kimura, Jovenilda Bezerra felix, Marina Rodrigues dos Santos Kupfer, Patrícia de Barros Viegas Anno e Sofia Amaral Rezende Diniz. Acesse aqui a cartilha “Autismo, conhecer para proteger”.
Palestras
O TEA é uma condição neurodesenvolvimental caracterizada pelo comprometimento das habilidades sociocomunicativos e comportamentos restritos e repetitivos, os quais têm influência nas relações sociais. De acordo com o psicólogo Marcus Fleury, o diagnóstico afeta não somente o paciente, mas toda a família, pois o processo de enfrentamento resulta em grandes mudanças em toda dinâmica familiar.
“A vida precisa ser tratada com o olhar da inclusão. Precisamos rever conceitos, para que reformemos nossa prática na convivência com o ser humano. As crianças com Espectro Autista não devem ser vistas com o olhar do estigma, mas do amor e acolhimento. A comunicação deve ser ampla. A compreensão da neurociência é fundamental. São construções de pontes para o desenvolvimento saudável. Suporte e comprometimento são as chaves para melhorar a qualidade de vida das crianças e famílias. O atendimento na área da saúde deve sempre acolhedor e efetivo, voltado para minimizar possíveis desconfortos”, disse o psicólogo.
A psicopedagoga Ludmylla Pereira Carvalho Ribeiro falou sobre o papel do fonoaudiólogo e a inclusão escolar. “A comunicação não ocorre apenas por meio da fala, mas pelo contato visual e gestos. A inclusão requer sensibilização e conscientização por parte da comunidade escolar. Ao promover o entendimento das características do autismo e das necessidades específicas, podemos construir um ambiente educacional inclusivo. Aprendizagem e bem-estar sãos dois elementos essenciais. O foco deve ser garantir uma formação plena e uma preparação para o futuro”, destacou.
Ao iniciar sua palestra sobre o diagnóstico e ciência, o médico Wendel Dalprá falou da tensão vivida pelas famílias sobre o destino das crianças com o TEA. “Percebo, no dia a dia profissional, a grande tensão das famílias sobre o que vem pra frente, o destino das crianças com autismo. Uma importante ação para ajudar nesse planejamento de futuro é o envolvimento das famílias e apoio de uma rede de profissionais”.
A terapeuta ocupacional Joyce dos Santos Marques ressaltou a importância do acesso ao tratamento qualificado. “Todas as pessoas com deficiências podem exercer ocupações que são significativas para elas. Para isso, precisa de oportunidade e tratamento. Sem bons profissionais, essas pessoas não terão acesso à justiça ocupacional. A Terapia Ocupacional analisa todos os contextos que o indivíduo está inserido. A ocupação é o que forma a identidade”.
O professor Diogo de Freitas Marques abordou as diferentes necessidades de aprendizado de alunos com autismo. “A inclusão do autista na sala de aula está relacionada à participação e interação. Informações, como acessibilidade, e a empatia devem ser compreendidas por todos. O autismo não se cura, mas sim se compreende. Outro ponto importante é trabalhar a autonomia do aluno autista na escola. Precisamos pensar que ele vai crescer e poderá ser o que quiser”.
As acadêmicas Ana Luísa de Araújo Razuk, Júlia Palmero Castellões, Isabel Gagliardi, Amanda de Oliveira Pinto, Giovanna da Silva e Juliana Máximo de Souza, da Universidade de Medicina de Santo Amaro, participaram da audiência pública, de forma online, e trataram da acessibilidade. “No Brasil, há uma escassez alarmante de profissionais com formação específica, resultando em longas filas de espera no sistema de saúde, diagnóstico tardio e tratamento inadequado”, disse Ana Luíza.
O capacitismo foi debatido pelo juiz Eduardo Floriano Almeida, da 2ª Vara de Família Sucessões de Dourados. “Hoje, no País há mais de 4 milhões com o TEA. Por isso, é importante falar sobre o capacitismo, que é uma forma de preconceito contra pessoas com deficiência. É preciso combater e descontruir o capacitismo na família e dentro do mercado de trabalho. Um dos grandes desafios é enxergar essa pessoa com direito de ser um indivíduo de valor humano. Além disso, aceitar as limitações indicadas pelos profissionais de saúde e educação”.
A proteção e legislação dos autistas foram temas tratados pela advogada Jovenilda Bezerra Felix. “A cartilha lançada hoje foi fruto de uma história que aconteceu recentemente, onde um autista em crise foi amarrado durante um atendimento. Começamos a buscar informações sobre proteção e direitos, pois é conhecendo que protegemos. O material navega por várias áreas. O acesso à informação precisa chegar a quem mais precisa”.
Emerson Faria, administrador de empresas, tratou sobre o “Conhecimento como ferramenta de inclusão: entendendo o autismo”. Portador do TEA, ele revelou várias situações que disparam sentimentos e provocam cansaço mental. “Cada gatilho desgasta e pode afetar a saúde. O modo como falar e como demostrar emoções são exercícios diários e desafiadores. O discernimento foi construído passo a passo. Falar em público é tenso, após isso é como se eu tivesse uma ressaca social. E está tudo bem, só é preciso respeito e amor”.
Fonte: Agência ALMS