Senadores retiram assinaturas, e governo consegue barrar CPI dos atos extremistas

Extremistas invadem e depredam o Supremo Tribunal Federal em 8 de janeiro de 2023 MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL -

Prazo para reunir apoio foi até sexta-feira (17); mínimo para abertura era de 27 senadores, mas adesão ficou em 15.

A proposta de criação de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) no Senado para investigar os atos extremistas de 8 de janeiro em Brasília não conseguiu apoio suficiente. O presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), deu prazo até sexta-feira (17) para que os parlamentares reunissem as 27 assinaturas necessárias para abrir a CPI, mas apenas 15 senadores apoiaram a abertura da comissão.

A atuação do governo federal, que ofereceu cargos e emendas parlamentares aos senadores que não apoiassem a iniciativa, foi decisiva.

O pedido de investigação foi protocolado pela senadora Soraya Thronicke (União Brasil-MS) em janeiro. O pedido chegou a receber o aval de 38 senadores, mas caiu para 15 após a posse dos novos senadores e a retirada de alguns apoios. Assinaturas de parlamentares que não estão em mandato não foram contabilizadas pelo Senado.

A senadora Soraya Thronicke ainda poderá tentar novas assinaturas. Caso chegue ao número mínimo, poderá reapresentar o requerimento como se fosse um novo pedido — começando do zero o trâmite para a abertura da comissão.

Presos

Na última sexta-feira (17), a Polícia Federal cumpriu 46 mandados de busca e apreensão e 32 mandados de prisão preventiva em nove estados e no Distrito Federal. Foi a oitava fase da Operação Lesa Pátria, que investiga pessoas que participaram, financiaram ou se omitiram nos ataques ocorridos em 8 de janeiro em Brasília, quando as sedes dos Três Poderes foram invadidas e depredadas.

Segundo a PF, os crimes investigados são de abolição violenta do Estado democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado, associação criminosa, incitação ao crime, destruição e deterioração ou inutilização de bem especialmente protegido.

PGR denuncia mais 100 envolvidos

A Procuradoria-Geral da República (PGR) apresentou, na quarta-feira (15), 100 novas denúncias contra pessoas acusadas de ter participado da invasão das sedes dos Poderes. No total, desde o início das investigações, o número de denunciados chega a 1.037.

As acusações partem da identificação de três grupos: o formado pelos que invadiram os edifícios e atuaram pessoalmente na depredação do patrimônio público; o composto dos que avançaram as barreiras policiais de proteção dos edifícios; e o integrado por aqueles que acamparam nas imediações do Quartel-General do Exército, solicitaram intervenção das Forças Armadas e incitaram animosidade entre estas e os Poderes constitucionais.

294 tiveram liberdade negada

O ministro Alexandre de Moraes finalizou nesta quinta-feira (16) a análise dos pedidos de liberdade de presos pelos atos do dia 8 de janeiro. Ele determinou a soltura de mais 129 pessoas que, para o ministro, não representam mais risco à investigação e à sociedade.

No entanto, elas precisam usar tornozeleira eletrônica e não podem se comunicar com outros investigados. Tiveram o pedido de liberdade negado 294 pessoas — 208 homens e 86 mulheres.

Prejuízos milionários

Os danos causados ao Congresso Nacional, Palácio do Planalto e STF chegam a R$ 18,5 milhões, segundo estimativas apresentadas em janeiro pela Advocacia-Geral da União (AGU). Em pedido feito à Justiça Federal no DF para bloquear a quantia de quem financiou os atos, a AGU afirmou que os financiadores também devem arcar com o prejuízo.

“Os réus tiveram papel decisivo no desenrolar fático ocorrido no último dia 8 de janeiro de 2023 e, portanto, devem responder pelos danos causados ao patrimônio público federal e derivados desses atos, disso decorrendo a sua legitimidade passiva”, diz o pedido. O bloqueio recai sobre imóveis, veículos, valores financeiros em contas e bens no nome dos investigados.

Confira os prejuízos calculados:

• Palácio do Planalto: R$ 7.978.773,07
• Câmara dos Deputados: R$ 1.102.058,18
• Senado: R$ 3.500.000,00
• Supremo Tribunal Federal: R$ 5.923.000,00
• Total: R$ 18.503.831,25

Senadores retiram assinaturas, e governo consegue barrar CPI dos atos extremistas
A invasão dos prédios do Congresso Nacional, Supremo Tribunal Federal e Palácio do Planalto por extremistas neste domingo (8) em Brasília deixou um rastro de destruição no patrimônio público e em obras de artes. Uma delas foi o quadro As Mulatas, de Di Cavalcanti, que foi rasgado em seis lugares.

A obra, de 1962, ficava no terceiro andar do Palácio do Planalto. Avaliada entre R$ 15 milhões e R$ 20 milhões, a tela é uma das mais importantes do artista que foi um dos ícones do Movimento Modernista da década de 1920
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Bailarina, escultura de bronze polido do modernista Victor Brecheret, foi destruída pelos vândalos. A obra, criada em 1920, foi arrancada do pedestal e deixada no chão de uma das salas do Congresso Nacional
Divulgação
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Feito em vidro temperado pela artista escultora, pintora e desenhista Marianne Peretti, o painel Araguaia fica no Salão Verde do Congresso Nacional. A obra foi instalada no local em 1977, em um projeto de decoração de Oscar Niemeyer. No painel, a artista usou uma técnica que parece dar movimento às figuras geométricas colocadas sobre o vidro, lembrando o curso de um rio
Divulgação/Câmara dos Deputados
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Instalada na frente do STF, A Justiça é uma das esculturas mais icônicas de Brasília.  O monumento, criado em 1961 por Alfredo Ceschiatti, representa uma mulher, sentada e vendada, segurando uma espada. A obra foi pichada com a frase ‘Perdeu, mané’
Bruno Stuckert/Folhapres
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Escultura de bronze criada pelo artista Bruno Giorgi, O Flautista foi encontrado em pedaços no salão do terceiro andar do Palácio do Planalto. A obra era avaliada em R$ 250 mil. Na foto, uma escultura da mesma série do artista
Reprodução
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Presente da corte francesa para o rei Dom João VI, o relógio de Balthazar Martinot, relojoeiro de Luis XIV, chegou ao Brasil no começo do século XIX. Existem apenas dois relógios deste artista: o outro está exposto no Palácio de Versalhes, mas possui a metade do tamanho da peça que foi completamente destruída pelos invasores do Planalto. O valor desta peça é considerado fora de padrão. O diretor de Curadoria dos Palácios Presidenciais, Rogério Carvalho, diz que será possível realizar a recuperação da maioria das obras vandalizadas, mas estima como ‘muito difícil’ a restauração do relógio
Reprodução/Twitter

Fonte: R7