“Pintar e bordar” ganhou um novo significado na vida de Mariah Escossia, de 35 anos, proprietária da “Bordados pra Iaiá”. Ela tinha acabado de perder o emprego em 2017 e já se preparava para enviar currículo para outras empresas, quando se deparou com um post nas redes sociais que mudaria o seu destino.
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“Eu vi uma amiga postando um bordado – diferente do que eu faço hoje, mas um bordado muito legal -, e fiquei muito interessada e corri atrás pra ver o que era. Entrei no YouTube e comecei a assistir a um monte de tutorial. Aí eu comprei o material e resolvi testar”, conta Mariah em entrevista exclusiva ao iG Delas .
“Eu gosto muito de experimentar coisas diferentes. Então, eu fui experimentando aquarela, fui experimentando, enfim, outras linhas, até chegar no que eu faço hoje”, continua. “Não mexia com nada, nem com desenho, nem com aquarela, nem com bordado. Mas sempre mexi muito com coisa manual, sempre gostei muito. E eu fui aprendendo sozinha”, garante.
Depois que foi pegando prática, a empreendedora chegou a fazer alguns cursos para aprimorar a técnica. Hoje, a atividade se tornou a sua única fonte de renda.
Retratos
Nas redes sociais da artista, retratos de mulheres chamam atenção pelas cores e texturas. Normalmente, os rostos são pintados com aquarela, enquanto as sobrancelhas, os cabelos, e às vezes, as roupas são bordados.
Questionada se tem alguma preferência em criar retratos de mulheres, Mariah Escossia respondeu: “Cara, eu acho que a gente tem que exaltar o feminino. Eu sou muito dessa linha, eu estudo bastante isso, eu gosto muito, então a minha preferência é bordar mulher. Mas incrivelmente, quando eu bordo algum homem, raramente assim, dá mais engajamento do que todas as mulheres que eu bordo”.
Marília Mendonça, Paulo Gustavo, Linn da Quebrada, Emicida e até Rihanna, Zendaya e Malala ganharam seus próprios retratos nas mãos da artista. “Quando eu vou fazer alguma pessoa conhecida, muito famosa, eu não modifico muito as feições, nem nada. Tento deixar o mais fiel possível. Eu não faço um trabalho realista, eu faço um desenho da pessoa. É uma versão minha, mas mesmo assim, eu me cobro mais”, afirma Mariah.
“A Marília e o Paulo eu fiz como uma homenagem, depois do que aconteceu. Eu sou muito fã dos dois. Eu não vendi as artes; a da Marília tá comigo e a do Paulo eu dei de presente. Mas a do Emicida, por exemplo, eu já vendi e é uma que todo mundo me pede pra fazer. Uma vez um cliente comprou e postou no Instagram, e o Emicida chegou a repostar. Até fiquei pensando: ‘Será que eu faço outra e dou pra ele?’. Não sei ainda, vou pensar”, disse ela enquanto tentávamos convencê-la que sim.
As escritoras Angela Davis e bell hooks também receberam versões em aquarela e bordado.
“O mais difícil de fazer?”, indagou pensativa. “Uma vez eu fiz a “Moça do Brinco de Pérola” [quadro de Johannes Vermeer], que era um sonho meu desenhar. Eu nem desenhava ainda e já achava lindo. Eu não achei difícil, mas fiquei tipo ‘Cara, eu não tô acreditando que eu tô fazendo isso’. Mas o mais difícil… Nossa, eu não sei, porque eu encaro muito como um desafio de aprender. Eu pesquiso e estudo muito antes. Se for alguma coisa que eu não sei, eu pego até um mês pra ficar pesquisando e estudando aquilo, pra quando eu for começar já começar de algum lugar”.
Mariah também contou ao iG Delas qual trabalho lhe marcou mais. “Eu tinha acabado de me mudar na pandemia e o meu material tava todo encaixotado. Então eu desenhava e comecei a disponibilizar desenhos de graça pro pessoal bordar em casa. E aí, nessa época, teve uma pessoa que me falou que a avó, que eu acho que tinha Alzheimer, pegou um dos riscos e ficou pintando. E fazia muito tempo que ela não fazia isso. A pessoa me agradeceu muito, mexeu comigo”.
“Também tinha um pessoal que falava ‘Eu dei pro meu filho, olha como ele bordou e tal, foi a primeira vez’. Isso mexe muito comigo também, até mais do que quando eu mesma faço um bordado e mando pra pessoa”.
Venda de retratos autorais e encomendas
No início, Mariah Escossia vendia apenas retratos autorais e só depois passou a aceitar encomendas de clientes. No site, é possível encontrar algumas artes prontas à venda.
“Eu já tive encomenda da Tatá Werneck. Eu sou muito fã dela. Ela me mandou mensagem e eu não acreditei. Eu falei ‘Gente, não é ela. Com certeza, é algum fã-clube. Tinha o verificado do lado e mesmo assim eu falei ‘Não, é só um fã-clube, com certeza. Não tem condição de ser a Tatá Werneck falando comigo'”
Perguntamos quanto tempo demora para fazer os bordados. “Depende. Porque eu conto assim: o tempo que eu tô pesquisando pra desenhar, aí faz o desenho, a aquarela… Aquarela no algodão é diferente da aquarela no papel, ela demora mais pra secar, porque é o algodão puro, não tem celulose. Eu comecei os bordados muito pra mim, e depois percebi que eles ajudavam muito na minha ansiedade e na minha depressão. Eu aprendi a respeitar o tempo deles e não querer correr com isso. Me ajuda muito. Eu deixo a aquarela secar naturalmente, no tempo dela. Tem bordado que eu já levei 60 horas pra fazer”.
Nas redes sociais, a empreendedora também fala sobre a importância de não ter medo de cobrar o preço certo pela sua arte. “É uma questão muito recorrente no meio do artesanato. As pessoas se sentem muito à vontade de questionar pra gente o porquê daquele valor. E eu sempre falo: ‘Gente, você entra no shopping, você não questiona pra loja o valor do que você quer comprar. Se você não tem como comprar da loja A, você vai na loja B e assim funciona’. Você não pode se diminuir porque o cliente exige que você diminua o seu valor”, diz Mariah.
“Eu invisto tempo, invisto no meu conhecimento, invisto em todo o material. Então eu tenho que cobrar o equivalente ao que eu valho. Muitas vezes o trabalho é personalizado pra pessoa, só ela vai ter aquilo, não é uma coisa que todo mundo tem igual. Eu acho também que os artistas têm que começar a ensinar isso ao consumidor. E é um trabalho de formiguinha. É não ter medo de ensinar com delicadeza, com respeito”, completa.
Cursos
Hoje, além de fazer retratos autorais e encomendas para vender, Mariah Escossia também dá aulas de bordado e aquarela em uma plataforma de cursos online. “Eu fui convidada por essa plataforma e fiquei ‘Caraca, como é que eu vou fazer isso?’ Eu nunca me vi como professora, mas o pessoal falava que eu ensinava bem detalhadamente, porque eu parto do princípio que a pessoa não sabe nada (risos)”, conta. Até hoje, mais de 3 mil alunas já passaram pelo curso.
“Eu recebo muito relato de gente que começou a bordar com o curso e se descobriu ali, virou fonte de renda dessa pessoa. Acho isso muito legal”. Nas aulas, a empreendedora ensina todo o material necessário e o passo a passo para fazer os bordados. Ela diz disponibilizar um desenho da filósofa Angela Davis para que os alunos possam bordar por cima, mas que também oferece outros riscos, todos de mulheres, além de incentivar que os participantes criem as suas próprias artes.
“O curso é pensado tanto para iniciantes, quanto para quem já borda e quer aprender técnicas diferentes”, afirma.
Fonte: IG Mulher