A menos que alguém estivesse trancado num bunker ou investigando se há mesmo vida em Marte para não ter ouvido da “Farofa da Gkay”. Até agora, seguramente, o evento mais bombado de 2021. Uma festa de aniversário para 200 pessoas, com tudo liberado. Open bar, open hospedagem, open tudo, nos quais, estima-se, tenham sido gastos quase R$ 3 milhões . Há alguns anos, tudo isso só seria bancado por algum herdeiro ou empresário milionário, no maior requinte, para uma lista de convidados chiques e abastados e sem um registro comprometedor que virasse notícia.
Ao contrário, na tal da Farofa tudo foi liberado. Inclusive a baixaria. Uma espécie de tapa na cara da sociedade que ainda olha com certo desprezo para essa gente que veio do nada e venceu. Impossível não analisar a festa de Gkay como a coroação de sua própria trajetória. Gessica Kayane Rocha de Vasconcelos, de 29 anos, é a síntese de um Brasil que ascendeu fazendo limonada de limões bem azedos. Nascida em Solânea, no interior da Paraíba, a garota de nome estranho (“Já fui batizada com um erro ortográfico e com nome composto em homenagem a uma égua que aparecia em filmes”), desejava, como tantas outras, ser artista.
Em 2013, por incentivo de amigos que a achavam engraçada ao contar suas desgraças, como os incontáveis chifres que levou, decidiu gravar para a internet. Nem tinha equipamento. “Era a época das blogueiras, ali em 2013. Mas como eu seria blogueira se não tinha nem roupa para usar, quanto mais para indicar?”, relembrou ela, durante uma entrevista recente ao “Podpah”: “Eu era pobre mesmo. Não era pobre nutella, que tem Celta e vai pra Disney. Eu não tinha R$ 2 para comprar um pão diferente”.
Inspirada em Whindersson Nunes, que se tornou um dos maiores amigos e incentivadores anos depois, viu que gravar num cenário meio desleixado, sendo ela mesma, podia dar certo. A mãe achou um absurdo. “Primeira coisa que ela disse foi: ‘Quem disse que você é engraçada?’. Para com isso e vai estudar”, conta. Gkay, alcunha dada por um amigo que odiava o nome dela, insistiu. Apareceram as primeiras permutinhas, o dinheirinho do YouTube e o cala-boca à mãe. “Comprei para ela uma geladeira que só faltava falar. Dali em diante ela me perguntava que horas eu ia gravar os vídeos”, entrega.
Não demorou muito para Gkay chamar atenção dos internautas e de empresários do meio artístico, sobretudo os na área de humor. Mas daí, com os primeiros cachês e a moeda “arroba” (uma brincadeira com a troca de favores por conta do número de seguidores e engajamento nas redes sociais) vieram as primeiras intervenções estéticas. Com 1m55 de altura (muitas vezes imprimindo menos ou mais dependendo do salto), GKay só não conseguiu ficar mais alta porque não tem como. Mas o resto?
“Acho que aqui no meu rosto só o branco dos olhos é meu. O resto fiz tudo”, revelou em outra entrevista a Danilo Gentili. Bichectomia, Rinoplastia, silicone nos seios, lipo, preenchimento nos lábios, botox, lentes de contato nos dentes, entre outra intervenções foram feitas e são refeitas de acordo com a necessidade e tempo. Vaidosa, Gessica não queria apenas ser popular. Ela queria ser bonita. “Ela chegava nos lugares e parecia muito simplória. Fazer graça era sua arma de sedução. Tanto para conquistar trabalho, quanto para arrumar uns boys”, entrega uma fonte, que conheceu a moça no início de sua carreira, há oito anos.
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Com o tempo, Gkay se sofisticou enterrando de vez o papo sobre dinheiro não trazer felicidade.Comprou o primeiro apartamento em João Pessoa, decorou no arroba card, tem um closet cheio de grifes importadas na mansão alugada em São Paulo e ficou rica. “Não tinha nada que me desse vantagem. Não tinha altura, não tinha beleza, não tinha peito. deus me botou no mundo e disse ‘vai'”, dispara. E ela foi. A primeira Farofa aconteceu em 2017, quando já tinha o primeiro milhão de inscritos em seu canal no YouTube, hoje bastante empoeirado, já que a artista e influenciadora concentrou seus esforços no Instagram.
A festa aconteceu na Paraíba e foi crescendo a partir da percepção de Gkay do que seus convidados queriam. “Eu fiz a farofa no primeiro ano porque fui numa festa do Gabriel Diniz, que era muito meu amigo, e um amigo meu da época me perguntou por que eu não fazia uma festa assim no meu aniversário. Fiz no mesmo lugar, todo mundo se divertiu, brincou e tudo mais. No ano seguinte, um doido chegou pra mim e disse: ‘Tô abrindo um hotel em João Pessoa e quero hospedar seus convidados, só que lá era pequeno. Eu fui espalhando as pessoas em outros. Só que todo mundo queria ficar no que não cabia. O dono do hotel servia caipirinha de madrugada pros convidados! Daí vi que o que as pessoas queriam era era ficar todo mundo junto. Então, a Farofa tem que ser dentro de um hotel. Todo mundo faz o que quer, vai para o quarto fazer o que quer”, diz ela, tentando explicar a gênese do sucesso de seu megaevento, que já no primeiro ano virou notícia por conta de um ménage protagonizado por Boca Rosa, Marina Ferrari e o namorado de Marina na época.
Outro componente dessa fórmula de sucesso em que se transformou Gkay pode estar em sua franqueza. Ela não faz a linha misteriosa. Se pega famoso, diz o nome. Entrega as amigas famosas que já dividiram boys com ela. Não tem vergonha de dizer quando precisa de dinheiro emprestado e ama o universo da fofoca, ao qual muito respeita. Os revezes da vida ficam por conta da ausência do pai, morto após um infarto fulminante em 2018, quando a filha chegava ao ápice, e as muitas críticas que recebe e que já a fizeram chorar em público e dar uma sumida para se reconectar com ela.
É nas origens nordestinas que recarrega e se realinha. Não à tôa, sua Farofa não migra para outro lufgar do Brasil. “Pessoal tem mania de dizer que nordestino é sofredor, é coitadinho. O cacete! Nordestino é trabalhador pra caramba, tem essa energia alegre, de receber bem as pessoas, que a Farofa tem. Não tem diferença, camarote, vipinho, vipão. Meus amigos de infância lá, eles choravam de alegria. Não tenho essa de artista lá e nós aqui. É tudo junto é misturado. Não existe ninguém melhor que ninguém”.