Agosto é o mês de conscientização sobre amamentação e recebe o complemento de “dourado” pelo padrão de qualidade do leite materno. A semana mundial do aleitamento materno vai de 1 a 7 de agosto. Este ano o tema é: “Proteger a amamentação: uma responsabilidade compartilhada”.
Menos da metade dos lactantes brasileiros menores de seis meses de vida (45,7%) foram amamentados exclusivamente, segundo Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (Enani) realizado pela UFRJ, entre fevereiro de 2019 e março de 2020. O número ainda está abaixo da expectativa da Organização Mundial da Saúde (OMS), que colocou a meta de 50% até 2025.
Entretanto, existe uma melhora considerável nesses indicativos de 2006 para cá, quando o percentual era de 37%. Ainda de acordo com a pesquisa, entre os bebês com menos de quatro meses, o índice de aleitamento materno exclusivo chegou a 60%. O índice de aleitamento materno continuado entre crianças de 12 a 15 meses foi de 53,1% e aquelas de até dois anos, 60,9%.
A OMS e o Ministério da Saúde recomendam a amamentação exclusiva da primeira hora de vida até os seis meses de vida, e como complemento alimentar até os dois anos ou mais.
Proteção a amamentação
A WABA (World Alliance for Breastfeeding Action – Aliança Global para Ação em Aleitamento Materno) surgiu em 1991 e desde 1992 ela propõe temas como sistemas de saúde, mulheres e trabalho, o código internacional de marketing e substitutos do leite materno, apoio comunitário, entre outros.
No Brasil, o Ministério da Saúde coordena estratégias para proteger e promover a amamentação no país desde 1981. O Brasil possui 222 bancos de leite humano e 219 postos de coleta. Em 2020, cerca de 181 mil mulheres doaram mais de 226 mil litros de leite materno. Neste ano, até junho, foram doados 111,4 mil litros.
Entretanto, o Ministério não adota os temas das campanhas da Waba, ainda que a importância dela seja ressaltada pela UNICEF, OMS e ECOSOC (Conselho Econômico e Social das Nações Unidas).
De acordo com o pediatra Marcus Renato de Carvalho, isso é um problema pois a proteção é diferente da promoção e incentivo. Enquanto a primeira fala sobre a garantia da cultura da amamentação, com leis evitando que a indústria de substitutos de leite materno façam propaganda não ética, a segunda fala sobre suporte às mães e nutrizes – que é importante, mas não abrange tudo.
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Cultura do desmame
A semana mundial do aleitamento materno celebra os 40 anos do Código Internacional de Comercialização de Substitutos do Leite Materno, criado pela OMS e Unicef como forma de superar os problemas que desencorajam a amamentação – como mamadeiras, chupetas e bicos artificiais, além das fórmulas infantis passaram a ser comercializadas como substitutos de leite materno.
Estudo realizado em 2020 , demonstra que a indústria de substitutos de leite materno sabem quem são os novos pais vulneráveis, incluindo as necessidades dos pais trabalhadores. Com isso, eles fazem propagandas direcionadas individualmente, promovendo seus produtos em detrimento da amamentação, geralmente buscando “mães embaixadoras” nas mídias sociais. Este trabalho também é feito com profissionais da saúde, apesar de ser ilegal.
“A Rede Internacional em Defesa do Direitos Amamentar ( Ibfan ) faz monitoramentos da NBCAL (Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos para Lactentes e Crianças de Primeira Infância, Bicos, Chupetas e Mamadeiras), que é a lei nacional deste código internacional , de comercialização dos substitutos e leitos maternos. O que ela tem visto é que as indústrias estão se comunicando diretamente com as mães através das redes sociais e isso a lei proíbe . Isso é muito grave. Ontem houve uma reunião da União Pan-Americana de Saúde com o Ministério da Saúde, conselhos federais de medicina, fono, odonto, nutrição e enfermagem para cobrar deles, que são associações profissionais, um posicionamento em relação a proteção e a NBCAL divulgue entre os seus associados que eles também podem descumprir a norma se permitirem esse tipo de de publicidade”, explica.
Vacina Covid-19 e amamentação
Este ano, o movimento lactantes pela vacina também aponta outro benefício da amamentação prolongada (além dos dois anos): o leite materno como agente imunoprotetor . Além de prevenir a desnutrição, o aleitamento promove a construção da imunidade do ser humano para toda a vida, conforme explica a gastroenterologista Cristina Targa Ferreira no Seminário Proteger a Amamentação. Pesquisa da USP já demonstrou o sucesso da presença do imunizante no leite materno até quatro meses depois da segunda dose.