Rodrigo Silva
No ano de 2015, o pesquisador norte americano, Stephen Pyne, cunhou um termo para designar uma nova era que se inicia em nosso planeta: o PIROCENO. Basicamente, essa teoria prega que, o mesmo elemento que nos levou a ser uma espécie dominante, será o responsável por destruir boa parte da nossa própria existência – isso é apenas uma questão de tempo.
Diuturnamente, temos sido bombardeados por notícias sobre as queimadas no Brasil e no mundo, como se isso fosse alguma grande novidade. Na América do Norte, por exemplo, as queimadas acontecem anualmente e, além de destruir dezenas de hectares de florestas, queimam casas e ceifam vidas humanas e de outros animais.
No Brasil, acontece o mesmo. As queimadas, principalmente no norte e centro-oeste, têm sido motivo de inúmeras manchetes em diferentes veículos de comunicação aqui e no mundo. Mas, o que está diferente dos anos anteriores? Duas coisas.
A primeira é a passividade – nesse momento foi a melhor palavra que encontrei para as atitudes de quem vou mencionar em seguida – do Ministério do Meio Ambiente conduzido pelo ministro Ricardo Salles diante dos desastres ambientais quem vêm ocorrendo sequencialmente no Brasil há, pelo menos, dois anos.
A segunda é a dimensão do que está acontecendo. Dimensão no sentido territorial e político. Especificamente, no caso do Pantanal, um dos biomas com maior biodiversidade do mundo e considerada a maior área úmida do planeta (guarde essa informação pois vamos falar dela em seguida), arde em chamas em uma área maior do que a cidade de Nova Iorque, deixando um enorme rastro de morte e desolação. A dimensão do estrago é tão grande que a fumaça chegou aos céus da cidade de Curitiba, no Paraná, que está a mais de 1800 quilômetros de distância.
Fotografias de onças-pintadas, tamanduás, serpentes e outros animais consumidos pelas chamas circulam pela internet e chocam quem as vê. Biólogos, veterinários e outros profissionais percorrem grandes áreas à procura desses animais para tentar salvá-los de morrerem carbonizados.
Mas, como disse anteriormente, o fogo não chegou ao Pantanal esse ano. Ele já é um velho conhecido do povo local, pois é muito utilizado para renovar os nutrientes do solo e ampliar o pasto para o gado que, aliás, é um dos maiores vilões dentro desse contexto.
Agora, vamos retomar a informação que falei anteriormente: o Pantanal é uma área úmida, portanto, a combustão natural é quase impossível. Mas, esse ano não está fácil nem para esse local. Com a estiagem, a seca chegou mais forte do que nunca e deixou um terreno propício para o que o fogo se espalhasse com força pela região, queimando 16% de todo território.
Agora vamos juntar as três informações: permissividade das autoridades ambientais + estiagem severa atribuída às mudanças climáticas (El Niño mais intenso) + fogo para ampliação de pastagens = desastre ambiental.
O enfraquecimento da fiscalização ambiental e suas políticas públicas de proteção ao meio ambiente que tem sido algo inerente ao governo do presidente Jair Bolsonaro, fato que pode ser demonstrado pelos gastos com a pasta – foi gasto apenas 0,4% do orçamento destinado às políticas ambientais – e, isso leva a situações como essas.
Ainda que o governo federal esteja alocando inúmeros heróis (bombeiros, soldados do exército, biólogos, veterinários e população local) para tentar apaziguar a situação, o fogo ainda arderá por muito tempo caso não seja feito algo contundente para combater o agronegócio devastador para nossa biodiversidade.
Rodrigo Silva é biólogo, doutor em Ciências coordenador do Curso Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental do Centro Universitário Internacional Uninter.